Economia tem retrocesso equivalente a 30 anos, diz Credit Suisse

09/03/2016 15:33

Cicatriz da crise engole metade do potencial de crescimento do Brasil. Cálculos do Credit Suisse indicam recuperação tão lenta quanto nos anos de 1981 a 2003.

Quando o Brasil deixar para trás a maior recessão da sua história e sair do vermelho, a realidade será bem diferente daquelas taxas de 4,4% de crescimento ao ano vistas entre 2004 e 2011. A cicatriz da crise, que pode corroer a economia até o final de 2017, será tão grande que levará o país a um ritmo econômico arrastado como o vivido entre os anos de 1981 a 2003, calcula a equipe de economistas do Credit Suisse em um relatório.

“De fato, quando o Brasil sair da recessão (a última vez que a economia sofreu dois anos consecutivos de crescimento negativo foi em 1930-1931), a nossa equipe de economistas estima que a taxa de crescimento potencial irá ficar entre apenas 1,5% e 2%”, ressalta o banco, que espera uma queda de 4,2% do PIB em 2016 e uma recuperação para -1% em 2017. Em 2015, a economia retrocedeu 3,8%.

Mercado de trabalho

Os economistas explicam ainda que há graves preocupações estruturais com o potencial de médio prazo para as perspectivas de crescimento. O Credit Suisse nota que dois terços dos 45 pontos percentuais dos ganhos acumulados do PIB nos últimos 13 anos – desde que o ex-presidente Lula venceu as eleições em 2002 – são atribuídos ao aumento da população economicamente ativa e apenas um terço é resultado de ganhos de produtividade.

“A sustentabilidade desse modelo de crescimento da força de trabalho está sendo corroída pelo envelhecimento da população”, alerta o banco. Os economistas citam projeções da ONU que mostram a taxa de crescimento da população economicamente ativa caindo significativamente nos próximos cinco anos e, como proporção da população total, após 2020.

Como resultado disso, segundo as estimativas do Credit Suisse, a contribuição de fatores demográficos para o crescimento do PIB irá reduzir à metade (para 1,4 ponto percentual) a partir de 2016.

As saídas

Com este cenário, os economistas apostam que as reformas – apesar de complicadas no ambiente político atual – são críticas para a trajetória de crescimento do Brasil, ainda mais atendendo os dois principais gargalos da economia.

O relatório ressalta dois principais caminhos: o primeiro é a o aumento da flexibilidade do mercado de trabalho como uma medida para aumentar a produtividade, e por conseguinte, a competitividade e, segundo, a remoção da indexação dos salários do setor público à inflação e de outros preços administrados (um legado para se proteger da hiperinflação) que poderiam reduzir estruturalmente a inflação, as taxas dos títulos e, portanto, o custo de capital das empresas, e impulsionar a criação de valor dos ativos.

 

Por Gustavo Kahil, especialista econômico em O Financista