Lula preso ou Lula ministro?

12/03/2016 07:00

Lula preso ou como ministro, saiba por que Dilma perde nos dois casos. Qualquer que seja o destino do ex-presidente, a única certeza é que sua sucessora sairá prejudicada.

Depois de rachar o país para reeleger Dilma Rousseff, apoiado no discurso do “nós contra eles” concebido pelo marqueteiro João Santana (preso pela Lava Jato), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai aprofundar o cisma entre os brasileiros, seja indo para a prisão preventiva, a pedido do Ministério Público de São Paulo, seja como ministro em Brasília, a convite de sua apadrinhada. Mas, tão certo quanto isso, é que Dilma não ganhará nada. Pelo contrário: perderá politicamente nos dois casos.

Vamos aos cenários. A eventual prisão de Lula detonará uma série de bombas com potencial para implodir a sustentação de Dilma no Palácio do Planalto. A primeira coisa que explodirá é o restinho de capacidade de articulação política da presidente. Nunca é demais lembrar que, mesmo criticando Dilma em particular, Lula saiu em sua defesa, publicamente, nos momentos mais críticos. Isso ajuda a conter os ímpetos de petistas descontentes com sua apadrinhada; manter de pé os resquícios da base aliada; e mobilizar sindicalistas e movimentos sociais contra o impeachment.

Por isso, a prisão de Dilma derrubaria o último anteparo que a protege dos ataques de todos os lados. Pelo lado do PT, as críticas mais suaves seriam a de que ela é tão fraca, que não controla nada, a ponto de permitir que Lula seja preso. Já a versão barra-pesada diria que ela não passa de uma traidora que fez vistas grossas às investigações. Por fim, com Lula atrás das grades, a oposição veria uma avenida aberta para agitar ao máximo o movimento de impeachment da presidente.

Improvável

É preciso ressaltar, porém, que poucos defendem a prisão preventiva de Lula, mesmo entre os políticos de oposição. O pedido, encaminhado pelos procuradores paulistas à juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, é considerado juridicamente frágil. “Não acredito que Lula seja preso agora”, afirma o cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice.

Aragão lembra que o próprio vice-presidente do PSDB e coordenador jurídico da legenda, deputado Carlos Sampaio, declarou que o embasamento do pedido do Ministério Público paulista é “frágil”. “Todos os lados olham essa situação com muita cautela”, diz. E têm razão para isso. Prender Lula seria detonar uma bomba atômica em plena crise política. Por isso, se isso for mesmo necessário, deve ser conduzido sem nenhum passo em falso.

Para evitar o eventual constrangimento de vê-lo atrás das grades, seus defensores aventam a possibilidade de transformá-lo em ministro de Dilma. A manobra lhe daria foro privilegiado, e colocaria seu caso nas mãos do STF (Supremo Tribunal Federal), cuja maioria dos ministros foi indicada por Lula e Dilma – o que, em tese, lhe deixaria numa posição mais confortável.

A presidente já o teria, inclusive, convidado para ocupar a Casa Civil, deslocando Jacques Wagner, atual titular da pasta, para a Justiça. O movimento soaria genial: blindaria o líder máximo do petismo e se livraria de um ministro, Wellington César, impugnado pelo STF por não ter renunciado ao cargo de procurador na Bahia.

Erro fatal

Mas a realidade é bem diferente. “Ir para a Casa Civil não resolveria os problemas de Lula; não devolveria a governabilidade a Dilma; nem encaminharia o impeachment”, afirma Aragão, da Arko. “Na verdade, seria um tremendo tiro no pé do governo”, resume. Primeiro, porque concentraria toda a crise no Palácio do Planalto. Isso apenas tornaria o impeachment um alvo perseguido como nunca antes na história desse país, pois significaria matar dois coelhos com uma cajadada só. Segundo, porque representaria, na prática, uma confissão de culpa de Lula – o que tornaria Dilma sua cúmplice, por acolhê-lo em Brasília.

É preciso ressaltar que, por ora, a nomeação de Lula a ministro não passa de burburinho. De qualquer modo, para Aragão, o simples fato de ser cogitada já desgasta o governo, Dilma, Lula e o PT. “É uma mostra de como todos estão em busca de uma solução mágica”, diz. “Expõe um governo frágil e desesperado, disposto a qualquer coisa para se manter no poder.” Uma imagem que, sem dúvida, não ajuda em nada Dilma neste momento. Mas, a esta altura, o que pode ajudá-la?

 

Por Márcio Juliboni - jornalista em O Financista