14/03/2016 17:59
”No passado, o ex-governador Leonel Brizola, político que Lula muito admirava, chamava-o de “sapo barbudo”. Agora, vem ele próprio, indevidamente identificar-se com uma jararaca”.
Num fim de tarde de setembro de 1987, tive o prazer de passar um fim de tarde com um brasileiro que passou pela Embaixada em Washington , interessado em saber detalhes sobre incidente no Brasil, classificado como nível 5 na escala internacional de acidentes nucleares. Tratava-se do lamentável episódio do Césio-137, de contaminação com material radioativo encontrado em aparelho de clínica abandonada, em Goiânia.
Esse visitante era nada mais, nada menos, do que o compositor (e zoólogo) Paulo Vanzolini, compositor de obras primas como “Ronda”, “Volta por Cima” e “Boca da Noite” e grande e fiel parceiro do também grande Adoniran Barbosa (“Saudosa Maloca”, “Trem das Onze”, “Bom-dia Tristeza”).
Prestei-lhe todas as informações possíveis sobre o acidente em Goiânia. Depois a conversa, que entrou jantar a dentro, variou da música à sua especialidade na área científica: a zoologia.
Vanzolini foi talvez o maior especialistsa em cobras e lagartos do Brasil. Foi um dos idealizadores da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e sustentáculo do Museu de Zoologia da USP, cuja coleção de répteis passou ao longo de sua vida profissional de pouco mais de mil para 230 mil exemplares.
Na etapa de nossa conversa sobre sapos e cobras – mencionei, dessas últimas, a mais comum e a que mais atemorizava os brasileiros: a peçonhenta e traiçoeira, jararaca, . Errei quanto à geografia. Pensei que era exclusividade nacional, mas a jararaca, prima das cotiaras e urutus, é espécie difundida pelas Américas do Sul e Central.
Fiquei sabendo, também que há varias subespécies de jararaca, entre as quais a dormideira, a preguiçosa e a verdadeira, todas tendo característica comum o gosto de dormir durante o dia.
Avanço tanto sobre assunto tão especializado, esse o das cobras, por ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomado de empréstimo a imagem da víbora tão mortífera para identificar-se consigo próprio.
Vendo-se incomodado pelos apertos da polícia e da justiça, disse ele que “se quiseram matar a jararaca, não fizeram direito, pois não bateram na cabeça, bateram no rabo, porque a jararaca está viva”.
Trata-se de uma declaração sem pé, nem cabeça (o que a torna similar a uma cobra), como o são as manifestações verbais de sua sucessora no Palácio do Planalto. Alguém quis matar a jararaca do Lula, ou apenas investigar o envolvimento do ex-presidente em supostas ilegalidades?
Um resultado da ação policial levantou irregularidades, como a apropriação, em seu sítio de Atibaia (aquele que não é dele, este sim, certamente frequentado por ofídios) de bens que parecem arrolados como propriedade do Estado brasileiro. Ninguém quis ou quer matá-lo, apenas investigá-lo!
De qualquer modo, se o João Santana não estivesse com sua liberdade restringida, deveria recomendar ao ex-Presidente abdicar dessas imagens de batráquios ou répteis, que, ao final das contas acabamr afetar (ainda mais) negativamente a sua imagem.
No passado, o ex-governador Leonel Brizola, político que Lula muito admirava, chamava-o de “sapo barbudo”. Agora, vem ele próprio, indevidamente identificar-se com uma jararaca.
Na verdade, depois da ida do povo às ruas em massa, ontem, 13 de março, a pergunta entre os zoólogos e outros interessados da área, é se Lula é mesmo uma perigosa jararaca, ou uma cecília – ou cobra-cega-, que na verdade nem é cobra , muito menos lagarto ou minhoca.
A cobra-cega é um anfíbio e, como diz o nome, nada vê, nada percebe, nem nada entende. O que é perigossímo para sua sobrevivência. Sobrevivência política, é claro!
Por Pedro Luiz Rodrigues - Jornalista e Diplomata