Lula ministro, seria como acender uma bomba no Planalto

15/03/2016 11:32

O convite da presidente Dilma para Lula assumir um ministério, seria como acender uma bomba no Planalto. Em vez de salvar Dilma, nomeação vai azedar de vez o humor dos brasileiros.

“Qual time não gostaria de colocar o Pelé em campo?” Foi assim que, na semana passada, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, defendeu a eventual ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o ministério de Dilma Rousseff. O que era, há alguns dias, especulação deve ser confirmado nesta terça-feira (15), segundo fontes de O Financista, com o anúncio de Lula como novo ministro da Casa Civil. O problema é que, a esta altura, Lula não é mais um craque incontestável da política, e o governo está longe de ser uma seleção brasileira de respeito.

A avaliação geral dos especialistas é que a nomeação de Lula não revolverá nenhum problema do ex-presidente, nem de Dilma. Pelo contrário: vai acelerar o fim do governo. “Não consigo ver como isso pode salvar Dilma”, diz o consultor político Paulo Kramer. “A manobra deve apenas precipitar a queda da presidente.”

O primeiro motivo é que, a esta altura, ela soará como uma provocação para a maioria dos brasileiros. Acuado pelas operações Lava Jato e Zelotes, e pelas investigações do Ministério Público de São Paulo, Lula corre, pela primeira vez, um risco real de ser preso. Basta lembrar que, em 4 de março, o ex-presidente foi levado para depor na Polícia Federal, sob um mandado de condução coercitiva.

Já nesta segunda (14), a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da Justiça paulista, decidiu enviar o pedido de prisão preventiva de Lula, apresentado pelos procuradores estaduais, ao juiz Sérgio Moro, que coordena a Lava Jato – e que já provou que não alivia a situação para ninguém, por maior que seja a sua patente no cenário nacional.

Por isso, aliados de Lula defendem sua nomeação para o ministério como um modo de blindá-lo de Moro. Com foro privilegiado, o ex-presidente só poderia ser alvo de decisões no STF (Supremo Tribunal Federal). Mas, para os especialistas, isso não resolverá os problemas de ninguém: nem de Dilma, nem de Lula, nem do PT. Na prática, a decisão apenas reforçará a imagem de que todos estão desesperados para se salvar. Essa fragilidade vai atiçar ainda mais a oposição e a parcela do PMDB que defende a ruptura com o Planalto.

Tiro no pé

“Lula no ministério vai aprofundar o racha na base aliada e não salvará o governo”, diz o cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice. Isto porque, a nomeação seria um prato cheio para o PMDB, maior partido do país e principal aliado do governo, se fazer de vítima: reforçar a imagem de que não é prestigiado, nem ouvido, nos corredores do Planalto. Mas a deterioração de Dilma não vai parar por aí. A decisão vai aguçar também a sanha do PT por nacos do poder. É preciso lembrar que uma parcela do partido sempre encarou Dilma como uma neopetista.

Oriunda do PDT do ex-governador gaúcho Leonel Brizola, a presidente é alvo constante de queixas de correntes petistas em diversos aspectos: da política econômica “neoliberal” até a incapacidade de negociar com os políticos. Por isso, Lula na Casa Civil representaria, na prática, “a antecipação do impeachment de Dilma pelo próprio PT”, segundo Aragão, da Arko.

Por último, é preciso ressaltar que o Lula 2016 não é o mesmo “Lulinha Paz e Amor” inventado pelo marqueteiro Duda Mendonça em 2002, quando conquistou seu primeiro mandato como presidente. A nova versão é uma reedição do estilo sindicalista combativo, que ataca para se defender. Trata-se de uma atitude nada recomendável para quem vai ocupar a Casa Civil, principal núcleo de articulação política de qualquer governo. Por isso, a agressividade apenas acelerará o distanciamento entre a administração Dilma e seus últimos aliados.

Últimos companheiros

A radicalização de Lula não é gratuita. Aquele que já foi o presidente mais popular em décadas (deixou o governo com 80% de aprovação) hoje é execrado publicamente ao incorporar o “Pixuleco” – boneco inflável que se tornou um dos símbolos dos protestos anti-PT, e que o representa como um presidiário. Além de ter seu nome citado por delatores da Lava Jato, Lula dificilmente conseguirá se desvencilhar do fato de ter eleito e reeleito “o poste” Dilma.

Resta-lhe, portanto, apenas uma esperança: apoiar-se na militância mais aguerrida e radical do PT, dos sindicatos e dos movimentos sociais. Para tanto, está radicalizando seu discurso de “nós contra eles”, segundo o qual todos os problemas do país se devem ao revanchismo inconformado da “elite branca de olhos verdes” contra a ascensão dos mais pobres. Soa como música para os ouvidos dos petistas mais fiéis. Mas muitos estão escutando, mesmo, é um réquiem para o governo.

Da Redação com informações de Márcio Juliboni