Entrevista com Simon Whistler, Control Risks

18/03/2016 19:07

Economia será único consenso com PSDB em governo Temer, diz Whistler. Crise política deve continuar com o andamento da Lava Jato após o governo Dilma.

As disputas políticas devem continuar após uma eventual saída da presidente Dilma Rousseff como resultado de um processo de impeachment. As negociações e interesses entre o PMDB, do vice-presidente Michel Temer, e o PSDB, do ex-candidato à presidência derrotado em 2014 Aécio Neves, não deve ser consensual e tranquila, avalia o diretor geral para a área de risco político e social na América Latina da consultoria Control Risks, Simon Whistler, em entrevista concedida nesta sexta-feira.

“Um novo governo pode ao menos tentar encontrar algum lugar comum para a política econômica, dado o nível da crise econômica e a necessidade de medidas urgentes para estimular a economia. Acredito que o PSDB irá ver isso como dentro do seu interesse para dar suporte a um consenso até as novas eleições em 2018”, diz Whistler. O especialista chama a atenção, contudo, que a continuidade da Lava Jato pode fazer com que políticos do alto escalão sob investigação continuem a agir em causa própria.

Veja, a seguir, a íntegra da entrevista concedida por e-mail:

O senhor acredita que a nomeação de Lula, neste momento após as manifestações, foi uma decisão equivocada?

Simon Whistler: É fácil dizer agora em retrospectiva, mas é uma decisão terrível – mais do que qualquer outra coisa isso reforça o nível que Dilma e Lula estão fora de contato com o público brasileiro. Parece inacreditável achar que eles não consideraram que a nomeação pudesse provocar uma reação furiosa. Se isso era para ser uma maneira de fortalecer a posição política dela, o que pode acontecer é ter o efeito contrário.

Qual é a sua expectativa para o processo de impeachment?

Whistler: A nomeação do Lula pode ser vista como um ponto de inflexão no processo de impeachment. Ainda há um grande caminho – especialmente se a apelação do governo contra a suspensão da posse tenha sucesso –, mas a indicação causou tamanha reação negativa que agora é mais fácil ver o PMDB se movendo para mais e mais longe do governo. Naturalmente, muitas figuras de peso do PMDB enfrentam as próprias investigações e, portanto, ainda há espaço para uma ação em causa própria quando chegar a decisão final sobre o impeachment, mas é certamente mais possível agora do que era antes da nomeação do Lula.

Como o senhor acredita que as forças políticas irão se comportar em uma administração Temer? Há alguma chance de chegar a um consenso para encerrar a crise política?

Whistler: Algum consenso provavelmente poderá ser encontrado entre o PMDB e o PSDB para assegurar algum grau de governabilidade que ainda não é possível sob Dilma e o PT. Mas acho que é importante reforçar que a Lava Jato não se encerra com o impeachment de Dilma porque há muitos políticos do alto escalão sob investigação para que um governo seja capaz de começar e ignorar os problemas que teriam causado a queda de Dilma em primeiro lugar. A raiva pública contra toda a classe política está crescendo e haverá uma expectativa real para que um novo governo traga mudanças reais na maneira com que a política está sendo levada.

Temer tem o que é necessário para criar um consenso em torno das reformas econômicas, com um novo ministro da Fazenda?

Whistler: Essa é provavelmente a única área na qual você pode ficar mais otimista. A crise atual significa que o governo não pode fazer nada no Congresso. Um novo governo pode ao menos tentar encontrar um lugar comum para a política econômica, dado o nível da crise econômica e a necessidade de medidas urgentes para estimular a economia. Acredito que o PSDB irá ver isso como dentro do seu interesse para dar suporte a um consenso até as novas eleições em 2018.

Como a classe política pode retomar a confiança popular?

Whistler: Acredito que o ponto principal é que agora há tanta desconfiança entre a classe política e o público que irá levar muito tempo, e reformas importantes, para que a credibilidade no sistema seja reestabelecida. Qualquer novo governo após Dilma passará por um período difícil enquanto tenta restaurar a confiança.

 

Por Gustavo Kahil em O Financista