Opinião – O ”Day After” do Governo pós-Dilma

04/04/2016 15:19

Se os votos favoráveis ao impeachment chegarem a pelo menos 342 na Câmara e a presidente cair, já se começa a especular sobre o “day after” do Governo pós-Dilma.

Se os votos favoráveis ao impeachment chegaram a pelo menos 342 na Câmara e a Dilma cair, já se começa a especular sobre o “day after” do Governo pós -Dilma, que já será melhor pelo simples fato de trazer mudança. O que aí está não pode continuar.

Mas antes disso é bom lembrar que a questão dos 342 votos é barra pesada, pois o Palácio do Planalto, depois do desembarque do PMDB, está de caneta em punho distribuindo cheques sem fundo de um governo quebrado para cooptar qualquer deputado que deseje ganhar uma grana agora sem ter que esperar pelo futuro, que sempre é incerto. Especialmente por causa da Lava Jato. Não é de se descartar a hipótese de que a barganha inclua algum tipo de promessa de “cobertura” para livrar os corruptos da cadeia, como está fazendo com Lula.  Afinal, mentir e enganar é a sua especialidade.

Se o Congresso for mesmo o valhacouto dos mais de 300 picaretas identificados pelo ex-presidente petista, como parece que é, não se pode cantar vitória antes do tempo, ainda que o fim da era PT seja o anseio da maioria do povo brasileiro.

É bom lembrar que dezenas de partidos estão representados na Câmara dos Deputados, muitos dos quais não temos a menor ideia do que sejam…

Façam um teste:

PT, PMDB, PSDB, PP, PSD, PR, PSB, PTB, DEM, PRB, PDT, DEM, PRB, PDT, SD, PSC, PROS, PPS, PCdoB, PV, PSOL, PHS, PEN, PMN, PTN, PRP, PTC, PSDC, PRTB, PSL e PTdoB

Quantos deles vocês conseguem identificar?

É por isso que todos os dias somos invadidos em nossas casas, via televisão, pela verborreia salvadora da pátria de figuras patéticas fazendo propaganda eleitoral gratuita – uma excrecência que um dia via ter que acabar.

Passando o impeachment ou não, a grande pergunta é: como será o “day after”?

Se a Dilma ficar como é que ela vai gerenciar a nação, coisa que não fez até agora?

Sua base de sustentação será um amontoado de nanicos?

Ou o Lula, se ainda não estiver preso, coisa que está ficando dava vez mais difícil graças à ajudinha que está recebendo do Supremo, que retirou o processo contra ele das mãos do juiz Sergio Moro?

Como vai ficar o tal de presidencialismo de coalizão e a governabilidade?

Será que ela, criativa como é, vai conseguir piorar a qualidade do lamentável ministério que hoje tem?

Se o Temer assumir, o que continua sendo uma possibilidade, apesar de também estar ameaçado por pedidos de impeachment, as perguntas são bastante semelhantes:

Que programa vai apresentar para recuperar a credibilidade do governo e injetar otimismo e esperança na sociedade?

Como vai compor o seu governo?

Como vai conseguir fazer as reformas necessárias e que demandem aprovação do Congresso quando seus companheiros de partido Eduardo Cunha e Renan Calheiros tiverem suas cabeças decepadas pela espada da justiça, o que é apenas uma questão de tempo?

O que vai fazer com os 40 ministérios?

Se acabar com os desnecessários (a maioria), como vai distribuir cargos de primeiro escalão para seus novos e velhos aliados?

Se ele não der um imediato choque de gestão vai começar a cair antes de começar.

E o Brasil continuará indo para o brejo.

Portanto, é inquietante qualquer especulação sobre o dia seguinte que se avizinha, seja ele qual for.

Como sonhar é de graça, meu “day after” deveria, entre outras coisas, ser o seguinte:

1 – Convocação de uma Assembleia Constituinte para revisar a nossa constituição cidadã, que, segundo muitos, deixou o país ingovernável, apesar de suas boas intenções.

2 – Nessa revisão, dar especial atenção para o sistema politico vigente, criando um novo que possa, por exemplo, acabar com a farra dos partidos. Não há democracia que consiga conviver com mais de 40.

3 – Dar completa autonomia para a Polícia Federal para que ela possa continuar o trabalho de saneamento que vem fazendo, junto com o Ministério Público e o poder judiciário.

4 – Depois disso, chamar eleições gerais baseadas numa cláusula pétrea que exija total renovação: políticos atuais não podem se candidatar.

Passado o efeito do colírio alucinógeno, acordei para nossa triste realidade.

E fui tomar um Engov.

 

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Por Faveco Corrêa é jornalista e consultor. Seu blog: www.faveco.com.br