Mercado está refém do cenário político doméstico e internacional

05/04/2016 10:55

O mercado está refém do cenário político. Com impeachment indefinido e Marina lançando campanha por nova eleição, é dia de perdas generalizadas nas bolsas.

O mercado está refém do cenário político o qual cercam as incertezas sobre o impeachment de Dilma Rousseff nesta terça-feira (5) . Enquanto uns digerem a defesa do processo, outros veem a proposta de novas eleições presidenciais ganhar força entre os parlamentares.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse ao apresentar a defesa da presidente que o processo fere a Constituição e deve ser considerado nulo. Cardozo declarou ainda aos membros da comissão que o processo está “viciado” pelo que chamou de “desvio de poder” que, na sua avaliação, foi praticado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao aceitar o pedido de abertura de impeachment.

Cardozo afirmou também que no regime presidencialista adotado pela Constituição de 1988 o impeachment é “uma situação de absoluta excepcionalidade” e que o impedimento é um processo jurídico e, portanto, a presidente não pode ser afastada por questões políticas.

Enquanto o impeachment ainda é dúvida, outras possibilidades ganham força. O senador do PMDB Valdir Raupp fez ontem, na tribuna do Senado, a proposta de que sejam realizadas novas eleições para presidente em outubro deste ano, junto com as eleições municipais.

Segundo Raupp, a conclusão do processo de impeachment de Dilma atualmente em tramitação no Congresso não encerrará o acirramento político no país, independentemente do resultado. Caso Dilma seja afastada, assumirá o cargo o vice-presidente Michel Temer, que preside o PMDB.

A proposta já tem o respaldo de alguns senadores. Segundo a Folha, um grupo de nove parlamentares do PSB, PPS e Rede se movimentam para defender as novas eleições. Tido como um aliado do vice-presidente Michel Temer, Raupp avaliou que o eventual impeachment de Dilma Rousseff não irá pacificar o país.

Paralelamente, na corrida por votos, os indecisos devem dificultar o trabalho do governo em busca de apoio. Os três partidos que negociam espaço no governo – PP, PR e PSD – decidiram deixar o anúncio da nova configuração dos ministérios para depois da votação do impeachment de Dilma no plenário da Câmara, segundo a Folha de S.Paulo.

A avaliação é que se a presidente sobreviver ao processo precisará deles para governar e cumprirá o acordo. Mas se perder, os parlamentares elevam o passe para negociar com o governo sem foto da posse.

A declaração de apoio à Dilma, no entanto, precisa ocorrer antes da votação. O PP fala em se posicionar em 11 de abril, faltando menos de uma semana para a votação do impeachment.

Diante desse quadro instável, o governo teme que possa haver traições de aliados. Por essa razão, a ideia de entregar os cargos prometidos só depois da votação está sendo estudada. Não há consenso sobre a proposta e assessores de Dilma Rousseff consideram a ideia descabida, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Não é só o governo federal que vem perdendo força. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, até o último sábado, que foi o fim do prazo estabelecido para que políticos pudessem trocar de partido, 24 prefeitos de São Paulo deixaram o PT de um total de 72 eleitos. Inúmeros vereadores também saíram do partido rumo a outras siglas. Foram perdidos 186 dos 664 vereadores eleitos, muitos deles potenciais candidatos a prefeituras importantes do estado.

No mercado internacional, o dia é de perdas expressivas em meio à desvalorização intensa de cotações de commodities. As bolsas europeias têm forte queda impactadas pelas preocupações com o desempenho da economia na zona do euro. Os índices futuros dos Estados Unidos também recuam.

A exceção ficou com as bolsas chinesas, que encerraram no maior nível em quase três meses diante de medidas governamentais e dados econômicos que animaram os investidores.

No mercado doméstico, o Banco Central reduziu o número de contratos oferecidos em leilão de swap cambial reverso – equivalente a compra futura de dólares – para até 5.960 contratos. No leilão de ontem foram ofertados 14.100 contratos, mas aceitou propostas para apenas 8.140 deles.

 

Por Marcelo Ribeiro, Weruka Goeking e Gustavo Kahil especialista do mercado.