Mercado segue de olho no cenário político

06/04/2016 08:56

Mercado segue de olho no cenário político, aguardando entrega de parecer sobre impeachment. Renan apoia plebiscito sobre eleições. BC não faz leilão de swap reverso e dólar sobe.

Entrega de parecer sobre impeachment, reunião do PP sobre eventual desembarque do governo e apoio de Renan Calheiros a novas eleições gerais concentram as atenções do mercado nesta quarta-feira (6).

O relator da comissão especial do impeachment, Jovair Arantes, deve entregar ainda hoje um parecer favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo informação do jornal Folha de S.Paulo, no texto não deverá ser incluído nenhum outro tema além do crime de responsabilidade.

O governo já desconfia que o parecer da comissão será favorável ao impeachment e luta para conseguir barrar o processo no plenário da Câmara. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está empenhado na articulação política e, pelos seus cálculos, o governo pode encerrar o processo de impeachment com mais de 200 votos.

De acordo com Cristina Lôbo, do G1, nas contas de Lula, Dilma pode contar com 100 votos dos partidos de esquerda (PT, PC do B. PDT e PSOL), 25 votos do PP, 25 votos do PR, 10 do PSD, 10 votos do PRB, e ainda 25 votos do PMDB e outros votos pingados de partidos nanicos e até do PSB. O ex-presidente também acredita que, diante de uma perspectiva de vitória, muitos vão pular para o lado do governo.

Na outra ponta da corrida por votos, o próprio relator do processo já procurou deputados de sua base eleitoral em Goiás para convencê-los a votarem pelo impeachment de Dilma, segundo o Valor Econômico.

Um levantamento público, feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que, se a votação do impeachment na Câmara fosse hoje, 234 estariam a favor do impedimento de Dilma e 110 seriam contra. O governo precisa de 171 votos e trabalha em busca disso em cima dos 56 indecisos. Outros 10 parlamentares não quiseram revelar o voto e 103 não foram encontrados pelo Estadão.

Em meio ao cabo de guerra de votos, o PP antecipou a reunião que faria na próxima semana para hoje para discutir se mantém ou não o apoio ao governo. Dilma sinalizou que pode abrir espaço para o partido e já entregou a diretoria do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), cujo orçamento é de R$ 1,1 bilhão, para o PP.

Neste contexto, rumores indicam que o PP pode optar por permanecer no governo, mas abrir a possibilidade para que os parlamentares não acompanhem o voto da legenda.

“Se isso se confirmar, o mercado vai sentir em um primeiro momento, porque isso aproxima o governo de barrar o impeachment. Mas a recuperação deve vir em seguida, já que os deputados poderão votar a favor do impedimento da petista”, apontou Eduardo Roche, gestor da Canepa Asset Management.

Enquanto isso, uma terceira via começa a ganhar força. Segundo a coluna Painel do jornal Folha de S.Paulo, o presidente do Senado, Renan Calheiros, tem na manga um projeto de eleições gerais.

A ideia é realizar um plebiscito durante as eleições municipais, em outubro. A população seria consultada sobre a mudança do sistema de governo e a antecipação da escolha para presidente, governadores e congressistas. Se aprovado, a votação aconteceria em seis meses.

A ideia de Renan tem uma particularidade. Sua equipe já pesquisou que ele teria 47% das intenções de voto para o Senado, garantindo que ele seria reeleito.

A LCA Consultores avalia que o debate sobre eleições gerais, que ganhou força nos últimos dias, e as nomeações de Dilma para o segundo e terceiros escalões do governo parecem estar contribuindo para o esfriamento do processo de impedimento de Dilma.

Nos mercados internacionais, as bolsas asiáticas fecharam sem direção única após dados positivos da atividade de serviços na China. As principais bolsas da Europa e os índices futuros dos Estados Unidos operam em alta diante do indicador chinês e da valorização do petróleo.

O preço do barril salta mais de 2% diante da indicação de autoridades do setor petrolífero do Kuwait de que poderá haver congelamento da produção, mesmo sem a participação do Irã.

Na agenda do dia, a ata do comitê federal de mercado aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) será divulgada às 15h (horário de Brasília).

No Brasil, destaque para a divulgação da produção de veículos automotores no primeiro trimestre do ano, às 11h20, pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

No mercado de câmbio, o dólar opera majoritariamente em alta, ganhando das moedas fortes, emergentes e ligadas às commodities. “Aqui, deveremos ter mais um pregão pressionado, além de acompanhar o exterior, a informação da jornalista Cristiana Lôbo, que o ex-presidente Lula já teria os votos suficientes para barrar o impeachment deverá trazer estresse aos mercados”, afirma Guilherme França Esquelbek, operador da Correparti Corretora.

Ao contrário dos últimos dias, o Banco Central não faz leilão de swap cambial reverso, operação equivalente à compra futura de dólares.

 

Da Redação com informações de Gustavo Kahil, Weruska Goeking e Marcelo Ribeiro - especialistas do mercado