09/04/2016 09:22
Um verdadeiro ‘jogo de cenas’ com os números de votos, é o que vemos na reta final do impeachment. O governo tenta a todo custo ganhar votos, ainda assim já se dizem vitoriosos.
A poucos dias da votação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo plenário da Câmara, governo e oposição intensificaram a guerra de números. Não se trata, apenas, de contar em voz alta os votos que julgam ter. Por trás de toda essa numerologia, está a tentativa de capitalizar o voto dos deputados indecisos.
Assim como parte dos brasileiros sempre vota no candidato que, segundo as pesquisas, vencerá a eleição, muitos parlamentares só se resolverão nos instantes finais, quando tiverem razoável certeza de que ficarão ao lado dos vencedores. É a tradução, no Congresso, do tão conhecido voto útil. Se, para o cidadão comum, escolher um candidato simplesmente porque será o vencedor representa apenas um conforto psicológico e, no máximo, um motivo para se gabar com vizinhos e parentes, para os congressistas é fundamental. Que político quer ficar de mal com quem assina as liberações de verbas e a nomeação para cargos públicos?
Por isso, os emissários de Dilma insistem em afirmar que os 172 votos para barra o impeachment já estão na bica. Na mesma toada, o PMDB calcula que, no máximo, dez parlamentares apoiarão a presidente. Apesar da determinação da cúpula do partido, os deputados não estão assim tão convictos de que será uma barbada, segundo uma pesquisa da Arko Advice. Quem está blefando? Os próximos dias mostrarão. Estes, sim, todos estão contando do mesmo jeito.
Veja, a seguir, o que aconteceu de mais importante no processo de impeachment nesta sexta-feira (8):
Rédea curta – O deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG), um dos vice-líderes do partido na Câmara, calcula que, no máximo, dez peemedebistas votarão contra o impeachment de Dilma. Em entrevista a O Financista, Quintão afirmou que a direção da legenda deve decidir, na próxima semana, sobre a expulsão dos dissidentes.
Descendo do muro – Lideranças do PSDB afirmaram posição única em favor do impeachment em reunião nesta sexta-feira em São Paulo, e decidiram fazer uma mobilização para convencer parlamentares de outras siglas a votar pelo impedimento. “Nós tomamos a seguinte decisão: no PSDB, é como no Solidariedade, é como no PPS do Roberto Freire, é 100% de apoio (ao impeachment)”, disse o senador Aécio Neves (MG), de acordo com comunicado divulgado após reunião com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, governadores e outras lideranças tucanas.
Dúvida cruel – Uma pesquisa da Arko Advice, consultoria de análises políticas, mostra que os deputados do PMDB estão divididos, quanto à convicção de que o impedimento de Dilma passará. Para 52% dos 44 parlamentares peemedebistas entrevistados, o pedido alcançará os 342 votos necessários. Outros 39% afirmam que ele será reprovado. Já 9% não opinaram.
Querer e poder – A maioria dos brasileiros acredita que Dilma chegará até o fim do mandato. É o que mostra um levantamento do instituto Paraná Pesquisas: 48,4% dos entrevistados acreditam que a presidente sobreviverá ao impeachment, enquanto 47,1% acham que ela será afastada antes; outros 4,5% não sabem ou preferiram não opinar.
Que honra… – Dilma foi eleita a líder mais decepcionante pelos leitores da revista norte-americana Fortune. No levantamento, a presidente recebeu 374 mil votos, contra 17 mil do segundo colocado, o governador do Estado do Michigan, Rick Snyder. Na lista, Dilma também ficou à frente de nomes como Joseph Blatter e Michel Platini, ambos envolvido nos escândalos envolvendo a Fifa, e de Martin Winterkorn, ex-presidente da Volkswagen.
Não vale – O relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) sobre o impeachment desrespeitou a Constituição e agravou a ilicitude do processo ao incluir aspectos que não estavam previstos na denúncia original e cercear os direitos da defesa, afirmou nesta sexta-feira (8) o ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.
Vai timeeee!!! – Dilma afirmou nesta sexta-feira, ao inaugurar o estádio aquático dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que a Olimpíada de agosto será realizada em clima de paz e tranquilidade, e exaltou a “tolerância entre as diferenças” que faz parte do espírito olímpico.
Não vai ter… grana – Apontadas como possível solução para a atual crise política pela ex-senadora Marina Silva (Rede) e pelo senador Valdir Raupp (PMDB), novas eleições gerais não poderiam sair do papel em 2016 por falta de verba. Consultada por O Financista, a Secretaria de Comunicação Institucional do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicou que não teria recursos para realizar eleições gerais em 2016.
Por Márcio Juliboni, jornalista e ex-editor de Negócios do Exame.com