Votos do Sul do país puxarão fila para o impeachment

14/04/2016 07:35

Com mais de 70%, votos do Sul do país puxarão fila de votação do impeachment. Não é por acaso, que Eduardo Cunha começará pelos Estados do Sul no domingo (17).

Para quem ainda acha que a ordem de chamada dos deputados na votação do impeachment, marcada para domingo (17), é uma mera picuinha, aí vão números que mostram como ela pode exercer uma grande pressão psicológica sobre os indecisos. Ao iniciar pelos Estados do Sul, o placar parcial deverá largar com mais de 70% dos votos a favor do impedimento da presidente Dilma Rousseff, ante cerca de 20% contrários. Mesmo que todos os sulistas indecisos ou que não se manifestaram ainda apoiem Dilma, a diferença não será significativa.

Com base no mapa de votações elaborado pela revista Veja, até a noite desta quarta-feira (14), 56 parlamentares sulistas seriam favoráveis ao impeachment; 17, contrários; e outros 4 não se pronunciaram ou estão indecisos. Considerando-se que pedido precisa do apoio de dois terços do plenário (ou 67% do total), o placar parcial garantido por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná é a estratégia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para convencer os indecisos a desembarcarem do governo Dilma.

Ciente de que largar bem será fundamental, aliados de Dilma já contestaram a decisão de Cunha nesta quarta-feira (13). O deputado Weverton Rocha (PDT-MA) apelou ao STF (Supremo Tribunal Federal) para mudar a ordem de votação. Baseado no regimento interno da Câmara, o parlamentar quer haja alternância de Estados do Sul e do Norte na chamada, com o objetivo de equilibrar a disputa psicológica pelos indecisos.

Segundo a ordem acertada entre Cunha e os líderes dos partidos, a segunda região a se manifestar será o Centro-Oeste, onde a adesão ao impeachment também é forte. Segundo o mapa da Veja, 32 deputados apoiam a medida, 6 se opõem e 3 estão indecisos ou não se pronunciaram. Assim, somados os votos do Centro-Oeste e do Sul, esta etapa da votação terminaria com um placar parcial ainda mais elástico, com cerca de 75% de deputados pró-impeachment e, no limite, 25% contrários.

Todo esse enredo foi arquitetado por Cunha para cooptar, sobretudo, os indecisos das regiões seguintes. Por ordem, a votação prosseguirá com o Sudeste, que soma, segundo a Veja, 18 incógnitas, entre indecisos e aqueles que não se pronunciaram; Nordeste, com 24 deputados nesta situação; e Norte, com 14 deputados indecisos ou que escondem o jogo. Ou seja: 56 parlamentares a quem o presidente da Câmara quer impressionar, a fim de tocar Dilma do Palácio do Planalto. É a esperança de que o efeito-manada dê o ar da graça no plenário.

Confira, a seguir, as principais notícias do processo de impeachment nesta quarta-feira (14):

Os primeiros da fila – O deputado federal Weverton Rocha (PDT-MA) recorreu ao STF para tentar reverter decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que definiu a sequência de votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, previsto para o próximo domingo (17). Cunha pretende chamar os Estados do Sul primeiro, seguidos pelos do Centro-Oeste e Sudeste, deixando o Nordeste e Norte por fim. Rocha, por seu turno, quer alternância entre os Estados do Norte e do Sul.

Amigo da onça – A bancada do PTB na Câmara decidiu que encaminhará domingo (17) o voto favorável à admissibilidade do impeachment. Integrante da base aliada do governo e com o comando do Ministério do Desenvolvimento, o partido tem 19 deputados em exercício, sendo que 15 já se manifestaram favoráveis ao afastamento da presidente.

Tá garantido 1 – O ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, disse que o Palácio do Planalto está convencido de que possui os votos necessários para barrar o impeachment no próximo domingo e garantiu que haverá governabilidade no restante do mandato de Dilma.

Tá garantido 2 – Dilma afirmou que o governo continua trabalhando e prometeu chamar todos os setores do país para um pacto nacional, quando o impeachment for derrotado.

Agora, Inês é morta – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criticou a proposta de pacto nacional feita por Dilma, caso o impeachment seja derrotado no próximo domingo. Cunha disse a jornalistas que já houve oportunidades para isso e que elas foram… desperdiçadas.

Autocrítica – Questionada sobre a possibilidade de participar de um pacto caso saísse derrotada na votação do plenário, Dilma foi categórica ao responder: “se eu perder, sou carta fora do baralho.Mas não estou falando só da Câmara, estou falando lá no fim, mais ou menos lá para maio”.

Apocalipse zumbi – Qualquer que seja o resultado da votação do pedido de impeachment, no plenário da Câmara, só há uma certeza entre os cientistas políticos: o governo Dilma já acabou. A questão apenas é saber se ela deixará o Palácio do Planalto ainda neste ano, ou se viverá como uma presidente decorativa até 2018. “O futuro de Dilma é extremamente tenebroso, mesmo se vencer a briga”, afirma Paulo Silvino, professor da Fespsp.

De camarote – Ao custo de perder parte do rali do impeachment, que fez a Bolsa disparar 23% só em 2016, a maior parte dos investidores globais está aguardando o desfecho da crise política para entrar no país, avalia Will Landers, gestor de fundos para a América Latina da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo.

Tem troco – Um levantamento da Paraná Pesquisas aponta que quase dois terços dos eleitores não votariam em prefeituráveis de partidos que se posicionarem contra o impeachment. No total, 63,2% dos consultados não apoiariam um candidato à prefeitura que pertencesse a um partido que apoiou a permanência da presidente Dilma.

Save the date – Guarde esta data: 12 de maio. Este é, por enquanto, o dia mais provável em que Dilma pode ser afastada por até 180 dias para que o Senado julgue seu pedido de impeachment. Como muitos analistas e parte do próprio governo avalia que, se o caso chegar aos senadores, é muito improvável que a presidente escape, Dilma pode estar, literalmente, com os dias contados.

 

Por Márcio Juliboni em O Financista