18/04/2016 09:38
Artilharia do BC tem US$ 78 bilhões engatilhados para segurar o dólar. Swap reverso ajuda autoridade monetária a zerar conta e favorece mercado interno.
O Banco Central vem realizando, desde o dia 21 de março, leilões de swap cambial reverso, operações que equivalem a uma compra futura de dólares. Foram três anos sem que o BC fizesse esse tipo de intervenção nos negócios.
Na prática, o BC atua de forma a elevar a procura por dólares – compra – estimulando a valorização da moeda. A decisão de voltar a fazer leilões de swap reverso ocorreu depois da desvalorização de 9,3% do dólar frente ao real neste ano, puxada pelo otimismo com que o mercado vinha recebendo as notícias relacionadas ao impeachment.
Até esta sexta-feira (15), o Banco Central havia negociado 577.020 contratos de swap reverso que somaram volume financeiro de US$ 28,851 bilhões.
Do outro lado, o BC tinha cerca de US$ 78 bilhões em swap cambial tradicional, equivalente a uma venda futura de dólares, e que significa custo para os cofres do BC. Trocando o swap tradicional pelo swap reverso, o BC pode zerar essa conta.
“O reverso diminuiu o que ele estava carregando de swap e ele tinha bastante”, afirma João Paulo de Gracia Corrêa, superintendente da SLW Corretora.
Segundo a SulAmerica Investimentos, o mercado financeiro entende que o BC quer “defender” o patamar de R$ 3,50, também aproveitando o forte fluxo de capitais para diminuir sua posição de swaps cambiais.
Efeitos colaterais
Oficialmente, com a atuação no mercado, o Banco Central limita o ritmo de volatilidade da moeda, dando maior previsibilidade para os investidores e, principalmente, exportadores e importadores. No entanto, para a maioria dos agentes de mercado, a intenção do BC é evitar que a moeda norte-americana desça abaixo de R$ 3,50.
“O Banco Central não quer mesmo que o dólar caia abaixo de R$ 3,50. Na última ata [do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central], ele usa taxa em R$ 3,70. O dólar barato é a única coisa que tem salvado a balança comercial”, afirma Corrêa, que considera R$ 3,50 como um “piso psicológico”.
Ao estabelecer um “piso” virtual para a moeda, a atuação do BC acaba gerando um efeito colateral benéfico para o mercado doméstico.
“Há rumores no mercado de que o BC está tentando segurar a taxa para beneficiar grandes empresas que estariam ‘hedgeadas'”, diz Corrêa. “Elas compraram muito dólar no início do ano, quando o dólar estava acima de R$ 4 e seria uma forma de ajudar algumas empresas. Segurar a taxa em R$ 3,50 é um patamar que ainda beneficia os exportadores”, acrescenta.
Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis Consultoria, explica que o excesso de volatilidade e as incertezas sobre o rumo da moeda têm potencial para “causar estrago importante” em grandes empresas “O BC tenta dar previsibilidade para que os agentes econômicos se preparem para o que está por vir.”
Poupar a produção nacional de riscos excessivos, especialmente as importadoras e exportadoras, é uma estratégia importante quando a única área com resultados positivos em meio à recessão é justamente o setor externo.
No acumulado do ano, até a segunda semana de abril, o saldo da balança comercial é positivo em US$ 10,011 bilhões. Em 2015, as exportações de bens e serviços saltaram 6,1%, na maior alta anual desde 2010 (11,7%).
É uma virada importante dentro do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, onde o setor externo vinha contribuindo negativamente desde 2005. O resultado positivo foi reflexo da menor demanda interna e, principalmente, da valorização cambial de 48,6% no ano passado.
Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora, considera que a queda do risco-país diante do otimismo com o impeachment aliado a uma taxa de juros bastante elevada atrai muitos dólares para o mercado brasileiro, jogando o preço para baixo.
“Em um mundo com muita liquidez, essa taxa diferencial elevada traz um fluxo gigantesco para o Brasil. A saída para reduzir esse diferencial é resolver o fiscal. Como isso não se resolve da noite para o dia, o BC tem essa função compensadora”, avalia Silveira.
Tem limite?
O Banco Central deve continuar atuando no mercado, mas não conseguirá evitar uma forte desvalorização do dólar, caso o impeachment da presidente Dilma Rousseff seja aprovado na Câmara no domingo (17).
“O Banco Central vai intervir menos [na próxima semana] e segurar menos o fluxo. Não faz sentido brigar com o mercado. O movimento pode levar a moeda a patamar entre R$ 3,20 e R$ 3,30”, afirma Bernard Gonin, analista macroeconômico da Rio Gestão de Recursos.
Apesar de o mercado já ter colocado muito do impeachment no preço, Silveira, da Nova Futura, acredita que a aprovação do impeachment na Câmara deve levar o dólar para R$ 3. Para ele, muitos investidores, especialmente estrangeiros, estão esperando por essa confirmação para entrar no mercado brasileiro para aproveitar o momento de menor aversão ao risco do país para comprar títulos públicos e ações.
Por Weruska Goeking em O Financista