O câmbio no governo de Michel Temer

19/04/2016 16:18

Como o câmbio se consolidará na eventualidade do governo de Michel Temer? A expectativa do mercado tem sido fortalecida positivamente com nomes para o governo.

As recentes intervenções do Banco Central, com o câmbio em torno de R$ 3,50, levantam a discussão sobre se existe um piso para o dólar. Mas há um ponto que embaralha esta visão. Confirmado o impeachment, os rumos da economia, inclusive do câmbio, passam em breve a ser ditados por uma nova equipe, no governo de Michel Temer. Até agora, os nomes citados para a equipe do vice têm um perfil inclinado a uma menor intervenção no mercado.

Para Flávio Serrano, economista do banco Haitong no Brasil, o dólar pode cair para R$ 3,30, ou um pouco menos, à medida que se confirme a expectativa de mudança de governo, com a chegada de uma nova equipe econômica. Segundo o economista, caso se confirme o noticiário apontando a possibilidade de nomes de perfil mais ortodoxo no comando da economia, a ideia de que não há piso para o dólar se fortalecerá. “O mercado entende que haverá uma abordagem mais ortodoxa.”

A expectativa positiva do mercado quanto ao governo Temer tem sido fortalecida pelo noticiário recente sobre nomes para o governo. A lista de possíveis nomes para Fazenda e BC tem incluído Henrique Meirelles, Marcos Lisboa e Ilan Goldfajn, que foi diretor de política econômica no BC comandado por Armínio Fraga até 2002, além de Murilo Portugal, ex-secretário do Tesouro.

Fraga, também citado nas listas para a Fazenda, teria dito a Temer que ajudará com indicações, mas sem assumir o posto, disse hoje a Folha de S. Paulo. Fraga e Meirelles, que assumiram o BC em circunstâncias diferentes das atuais, em 1999 e 2003, permitiram uma apreciação acentuada do real nos meses seguintes. O afastamento de Dilma é esperado pelo PMDB para o início de maio.

As intervenções do BC não são evidência de um piso na faixa atual, em torno de R$ 3,50, diz Serrano.“O BC está aproveitando a janela para reduzir seu estoque de swaps.” Quando esta posição estiver mais reduzida, é possível que o BC deixe o câmbio mais livre, diz o economista.

“O BC deve continuar a reduzir o estoque de swaps se o processo não tiver terminado no governo Dilma”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. “Acho que a abordagem continuará a ser redução da volatilidade. Se o câmbio sofrer um processo de valorização muito rápido, o BC tende a suavizar o processo, mas não impedir que ocorra.”

Para Serrano, do Haitong, a importância do câmbio na melhora recente das contas externas não pode ser superestimada. Segundo ele, em larga medida, o que reverteu o déficit da balança foi a queda das importações, devido à recessão. O Brasil conviver com déficit não seria um problema, afirma, desde que haja uma política econômica consistente, que atraia investimentos e gere um crescimento sustentado do PIB.

O fato de o BC ainda ter um estoque de US$ 72 bilhões em swaps cambiais fortalece a ideia de um limite para queda do dólar, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria. “Não vai demorar para o exportador reclamar”, caso o dólar caia para níveis muito menores. Apesar do provável perfil mais ortodoxo da equipe de Temer, Blanche adverte que a melhora dos fundamentos fiscais levará tempo.

Cleber Alessie, operador de câmbio da H. Commcor DTVM, também não acredita que o BC esteja defendendo um piso em R$ 3,50. “Não vejo uma tentativa de controle do nível da moeda por parte do BC. Há uma expectativa de maior queda do dólar no curto prazo como um todo, devido à maior liquidez no mercado externo, com o Fed não devendo subir juros tão cedo, recuperação do preço do petróleo em relação ao começo do ano, além da evidente expectativa de melhora de cenário local.”

 

Por Josué Leonel da Bloomberg News