21/06/2016 01:43
É uma boa rentabilidade extra para quem sabe escolher bem seus riscos
Quando vamos investir em uma empresa podemos fazê-lo de duas formas. Uma delas é amplamente conhecida: suas ações.
Como acionista devemos ter a capacidade de estimar os próximos fluxos de receita e lucro, e trazê-los a valor presente. Em outras palavras, queremos saber se a empresa vai crescer, ao passo que suas ações passem a valer mais do que valem hoje.
Esta é uma tarefa difícil, e precisamos ficar atentos a uma série de variáveis além dos dados da própria empresa. Dependemos da atividade econômica, da tendência local e global.
Há uma forma menos conhecida de se investir em uma empresa na qual não precisamos torcer para ela crescer o máximo que pode. Apenas precisamos torcer para que ela gere caixa o suficiente para pagar suas dívidas.
Parece mais simples, não é?
Como debenturista você investe em um título de dívida da empresa. Na emissão é combinado o pagamento de juros e amortização, e algumas cláusulas a serem respeitadas pela empresa (como alavancagem máxima, por exemplo). Em troca você recebe os juros do empréstimo, que são bem maiores que os juros pagos nos títulos públicos.
Empresas de rating AAA, consideradas as mais seguras, pagam em média 1% acima do CDI.
Conforme aumentamos a escala de risco, esse spread vai aumentando.
As AA+/AA/AA- chegam em média a CDI + 2%, e as A-/A/A+ se concentram entre 2% e 3% acima do CDI.
É uma boa rentabilidade extra para quem sabe escolher bem seus riscos.
Existem também as debêntures de empresas em situação de estresse, com alta alavancagem, mudança de controle, queda nas receitas. Nesses casos encontramos rentabilidades de IPCA+ 20% ou CDI + 10%.
São retornos fenomenais comparados aos títulos públicos. Porém tais debêntures são sugeridas apenas aos investidores com muito estômago. É preciso estudar em detalhes a probabilidade real de a empresa sair do buraco.
Para exemplificar, as debêntures da Natura pagam 107% do CDI para uma dívida que vence em março de 2018. Se considerarmos os juros de mercado, esta taxa seria equivalente a 13,70% ao ano.
Por outro lado, debêntures da Restoque (controladora de marcas como Le Lis Blanc) já chegaram a negociar a 225% do CDI no início do ano. O que seria equivalente a 32% de retorno ao ano. Certamente é um retorno maior comparado a muitas ações. A empresa passava por uma situação complicada, de piora nos resultados, troca de management e suposta briga entre controladores.
Hoje em dia, com estabilidade da equipe de gestão e restruturação da dívida, a empresa conseguiu rolar sua dívida a apenas 126% do CDI.
Casos interessantes não faltam para este instrumento, e a maioria das empresas utilizam-se das debêntures para se financiar.
Atualmente o setor não ganha muita atenção, pois o investidor prefere títulos isentos de imposto de renda como as famosas LCIs e LCAs.
Pensando nisso, o governo optou por isentar as debêntures voltadas para a infraestrutura.
Assim, empresas com projetos de concessão emitem debêntures isentas para baratear o custo dos projetos.
O investidor, por outro lado, garante uma rentabilidade acima do mercado ao mesmo tempo que auxilia no crescimento do país.
No prospecto de emissão desses instrumentos encontramos informações como o prazo do projeto, o volume de capex e seu cronograma esperado, e todo tipo de informação a respeito da concessionária.
O mercado de debêntures desperta o interesse dos investidores cada dia mais, e se o governo optar por retirar a isenção das letras de crédito, como já foi ameaçado algumas vezes, as debêntures se tornariam a principal alternativa para quem procura rentabilidade maior em renda fixa.
Por Marília Fontes é economista e analista da Empiricus Research.