Eleições – Qual a relevância de um vereador para a um deputado?

22/07/2016 11:28

Saiba qual a importância de um vereador para a eleição dos deputados em Brasília. Sucesso de aliados nas urnas agora tem impacto direto com o futuro dos partidos

Quando você votar para vereador e para prefeito nesta eleição municipal de outubro, indiretamente você pode ajudar a definir quem serão os próximos deputados federais, escolhidos dois anos depois.

O pleito de 2016 não tem relação direta com a Câmara dos Deputados, mas, para os partidos e parlamentares, as disputas municipais são determinantes na composição do legislativo federal em 2018.

Observar essa correlação, entre eleições locais e nacionais, ajuda a entender, por exemplo, por que a Câmara dos Deputados fica praticamente vazia durante as campanhas municipais.

A maioria dos 513 deputados deixa de trabalhar em Brasília para participar ativamente das campanhas em seus redutos eleitorais.

O sucesso ou a derrota nas urnas pode levar a uma série de efeitos, que, na definição de pesquisadores, faz parte de uma “correia de transmissão” tanto de votos quanto de poder político.

Segundo o cientista político David Fleischer, professor da UNB (Universidade de Brasília), quanto mais prefeitos e vereadores são eleitos por um partido ou grupo político, dois anos depois se elegem mais deputados desse mesmo partido ou grupo político. Se eleger menos, terá menos deputados também.

DEPUTADOS ”PREFEITÁVEIS” E CABOS ELEITORAIS

É possível identificar dois perfis de atuação dos deputados nas eleições municipais:

Parlamentar Candidato

Em média 80 dos 513 deputados concorrem como candidatos a prefeito. Em 2012, dos 87 deputados candidatos a prefeito ou a vice, 25 foram eleitos, segundo levantamento do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Nestas eleições, a expectativa é que o número de “prefeituráveis” continue dentro daquela média.

Puxador de Voto

Os demais deputados, não candidatos, também participam do pleito, mas para ajudar a eleger seus aliados, sejam eles postulantes a prefeituras ou a câmaras municipais.

O fato de somente um pequeno percentual dos deputados federais serem candidatos demonstra que a motivação desses parlamentares em participar das campanhas não é, na maioria dos casos, para conquistar votos para si. O que está em questão é uma intensa relação de troca de apoio e de visibilidade.

MUNICÍPIOS SÃO BASE DE VOTO

Para entender a relevância das eleições municipais dentro do desenho político e partidário, é importante lembrar que, dos quase 65 mil cargos eletivos disputados no Brasil, a maioria está nas cidades.

57.420

vereadores foram eleitos em 2012

 veradores elecoes 2016

5.570

prefeitos serão eleitos em 2016

No sistema eleitoral brasileiro, os deputados federais são eleitos a partir dos votos de seus Estados. As campanhas, em geral, se concentram na cidade de origem ou nas regiões em que o parlamentar é mais conhecido. Por isso a questão territorial é relevante.

Em 2012, por exemplo, a família Tatto, cuja força está em bairros da zona sul da capital paulista, como Capela do Socorro e Grajaú, conseguiu eleger dois vereadores, Arselino e Jair, ambos do PT. Naquela época, outros dois integrantes da família eram deputados, Ênio (estadual) e Jilmar (federal), que também receberam votos daquela região.

Participar da campanha municipal, portanto, é um jeito de o deputado continuar próximo da base eleitoral que o elegeu, de estreitar relações com seus aliados e, com isso, se manter em destaque.

Logo, se aqueles aliados se elegerem, o deputado consegue manter um canal político estreito com a sua região e poderá, por exemplo, intermediar o repasse de recursos federais para áreas de maior visibilidade e participar da inauguração de obras.

Uma lógica essencial para quem planeja buscar votos dois anos depois – seja para reeleição ou para novos cargos, como senador ou governador.

“Nas eleições municipais temos a distribuição das cartas do jogo político. Se você tem proximidade com número grande de prefeitos e vereadores você consegue usar isso como uma espécie de máquina para as eleições gerais. Ele [deputado federal] intercede em favor dos prefeitos e vereadores e espera a solidariedade deles dali a dois anos”

Geraldo Tadeu Monteiro – cientista político e professor da UERJ

EM JOGO: CARREIRA POLÍTICA E FORTALECIMENTO PARTIDÁRIO

Prédio do Congresso Nacional, em Brasília, abriga a Câmara dos Deputados e o Senado

O envolvimento dos deputados federais nas campanhas municipais não é importante apenas para os próprios parlamentares. Essa troca de apoio articulada no pleito municipal gera dividendos para os próprios candidatos e também para os partidos.

QUEM BUSCA O QUÊ

Candidato

Em especial para os postulantes a prefeito, ter um deputado federal como cabo eleitoral simboliza força política. Além disso, se ele for eleito, o parlamentar pode se tornar um articulador para estreitar as relações entre o município e o governo federal. Como a maior parte das prefeituras depende de recursos da União para manter seu caixa, ter alguém que faça essa interlocução pode facilitar a realização de convênios e parcerias.

Partidos Políticos

As legendas estão atentas à lógica do “sucesso nas eleições municipais determina o sucesso nas eleições gerais”. Ao garantir uma extensa rede de prefeitos e vereadores, o partido consegue manter seus quadros em evidência, o que pode resultar em mais votos para seus parlamentares no futuro. Quanto mais votos no pleito municipal, maior será a bancada eleita na Câmara dois anos depois.

Para os partidos, especificamente, o tamanho da bancada de deputados federais é relevante por dois motivos: a partir desse número é calculado o percentual a que a sigla tem direito do Fundo Partidário (dinheiro público destinado às legendas) e o tempo de propaganda em rádio e TV.

O novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixou claro que o principal objetivo da legenda para este ano são as eleições de 2016. “Queremos tentar eleger o maior número de vereadores possível, que tem uma relação direta com eleição de deputado”, afirmou em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura.

Segundo André Santos, analista político do Diap, o fato de o PMDB ser atualmente a maior bancada do Congresso está diretamente ligado ao número de prefeitos e vereadores eleitos filiados ao partido. Em 2012, por exemplo, o PMDB foi o que mais elegeu vereadores (7.964) e prefeitos (1.024), além de vice-prefeitos (817).

“Há uma correia de transmissão que vai do vereador, ao prefeito, ao deputado federal. Quando ela dá certo, o partido ganha mais Fundo Partidário, mais tempo de TV e assim se cria uma estrutura que favorece a todos”, afirma Geraldo Monteiro.

 

Por Lilian Venturini, é jornalista especialista em política e economia