Opinião – A falta que ela não nos fará

11/08/2016 12:24

”Dilma, que nos deixa tal qual a casa do cronista, após a reunião com investigado Lula, deve renunciar para não continuar prejudicando a imagem do Brasil”

O mestre Fernando Sabino, em crônica publicada no jornal “O Tempo”,  nos idos de 2007, relatou a sua angústia quando resolveu dar um mês de férias à sua auxiliar do lar – antiga “empregada”, como a ela se referiu na obra intitulada  “A falta que ela me faz”.

Sabino descreve a satisfação que teve nos primeiros dias de liberdade total dentro de casa. Podia andar só de chinelos, trocava de roupas com a porta aberta e falava sozinho sem passar por maluco. Ao longo dos dias percebeu que sua vida havia se transformado numa bagunça sem fim.

A crônica de Sabino nos faz olhar com um pouco de humor a situação da quase ex-presidente. Dilma foi escolhida para ser serviçal do Partido dos Trabalhadores na Presidência da República, sob o comando de Lula que, hoje,  é decadente político que se sustenta na mídia como investigado por crimes diversos.

O brasileiro, ao aceitar Dilma, acreditou que ela seria uma gerente eficiente do país que estava no caminho certo para se consolidar como grande potência econômica e democrata. A herança recebida do governo Fernando Henrique e  a midiática administração Lula facilitava a missão.

A promessa de Dilma de limpar a casa como se fosse a “empregada” de Sabino, ao retornar das férias, fracassou de forma retumbante e acabou  como a carne assada no forno do fogão. A limpeza esbarrou no poder político de Lula e seus companheiros, e a sujeira aumentou com a descoberta dos ilícitos praticados, tanto no “mensalão”, quanto  no “petrolão”.

A decisão do Senado Federal que aceitou o julgamento da presidente afastada pelo plenário da casa com uma margem de votos capaz de retirá-la do poder deixou a situação insustentável. Dilma está fora!

O debate entre o senador Antonio Anastasia e o advogado Eduardo Cardozo se tornou uma cansativa demonstração de intolerância dos adeptos do Partido dos Trabalhadores e aula de moderação e conhecimento jurídico-administrativo do senador. O desempenho de Anastasia o coloca como alternativa do PSDB na disputa presidencial de 2018.

A queda de Aécio nas pesquisas eleitorais e a sua discreta participação no processo de ‘impeachment” indicam  o desalento do senador com a possibilidade de disputar a eleição; por outro lado, o chanceler José Serra optou por acreditar que o raio poderá cair no mesmo local e sumiu do debate político, imaginando que poderá inventar um novo “Plano Real”, seguindo o caminho de FHC. O sorriso hoje estampado em seu rosto não apaga a imagem de antipatia que sugere aos seus interlocutores.

Por fim, a posse definitiva de Michel Temer e a sua afirmação de não concorrer à reeleição abrem caminho para novos nomes na disputa que se destacaram ao longo desses meses no exame do retorno da “empregada” de Lula.

Sabino, antevendo os dias de hoje, encerrou a sua crônica dizendo:

“Até que um dia, como uma projeção do estado de sinistro abandono em que me via atirado, comecei a sentir no ar um vago mau cheiro. Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua.

Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar. No que abri a porta, o mau cheiro me atingiu como uma bofetada. Vinha do fogão, certamente.

Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno. ” Oh não! ” recuei horrorizado.

Na panela, a carne assada, que a empregada gentilmente deixara preparada para mim antes de partir, se decompunha num asqueroso caldo putrefato, onde pequenas formas brancas se agitavam. Mudei-me no mesmo dia para um hotel.”

Dilma, que nos deixa tal qual a casa do cronista, após a reunião com investigado Lula, deve renunciar para não continuar prejudicando a imagem do Brasil neste instante em que somos observados por bilhões de pessoas. Deve, sim, mudar de vez para o hotel onde se hospedam seus companheiros. Não sentiremos saudades!

 

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Por Paulo Castelo Branco
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