Opinião – Enterrar os mortos. E cuidar dos vivos.

02/09/2016 10:38

”Quando Marquês de Pombal na reconstrução de Lisboa mandou que fizessem as ruas mais largas, criticaram: “Serão mais largas, mas no futuro não faltará quem diga que são muito estreitas.”

Resolvido, afinal, que o terremoto politico e econômico que a Dilma vinha encarnando e até resvalando para atirar a economia do País na grande onda tsunami que atarantou a indústria, o comercio e em especial os investidores, o que se materializou na tragédia social de mais de doze milhões de desempregados no Brasil, é oportuno lembrar o Marquês de Pombal tão logo o grande terremoto amainou, mas impondo à  capital portuguesa um cenário de mortes e desolação – “enterrar os mortos e cuidar dos vivos!”.

Faças tu quanto aos últimos acontecimentos neste Brasil, antiga colônia portuguesa, a analogia que quiseres. O grande terremoto eclodiu em 9 graus da escala Richter na manhã do dia de todos os santos, 1º de novembro de 1759.

A Lisboa por onde andamos muito admirados hoje não tem nada a ver com a cidade que existia antes daquela tragédia. O terremoto destruiu igrejas, conventos, palácios, o arquivo da torre do tombo e também vilas importantes nas adjacências. A família real só escapou ilesa porque deixou a sede da Corte na véspera.

Naquele cenário de fome, saques, doenças, desabrigo, milhares de pessoas deixando a cidade, mas sem saber para onde ir, Sebastião de Carvalho e Melo, até então visto por olhares enviesados de algumas elites, mas depois alçado ao posto de Primeiro Ministro, conhecido ainda hoje na história como Marques de Pombal, não só impediu o êxodo ao garantir socorros aos feridos e alimentos aos famintos e tendas aos desabrigados, como também, ao mesmo tempo, valendo-se do seu enorme capital politico, que não deixou escapulir em meio à crise, mirou e liderou a reconstrução.

No nosso caso, enterrar os mortos e cuidar dos vivos é convocar os sobreviventes, ou seja, nos todos, para a alegria de viver, sendo respeitados em nossa dignidade humana, em nossos direitos às oportunidades a que todos têm direito no regime democrático. E está tudo lá, na Constituição da República.

Isso implica em convocar a confiança, alimentar a esperança, sabendo exatamente o que queremos que seja este País.

Ainda vivos a merecerem as prioridades nas ações não só do Governo, mas também de todos nós que nos somamos em sociedade, são os doze milhões de desempregados. Os gestores e acionistas das centenas de milhares de empresas que foram obrigadas à paralização de suas atividades, sendo obrigadas a não mais garantirem o pão nas mesas dos milhões de trabalhadores. Não foi o Temer quem produziu tudo isso. Foi o PT, notadamente os (des) governos da Dilma. A coligação PT-PMDB aconteceu por razões eleitorais, o que tem sido comum no Brasil. As coligações majoritárias, infelizmente, são formadas mirando interesses eleitorais, mas  sem identidade programática nenhuma. Essa deformação é mais um resultado do nosso sistema eleitoral, cujas leis estimulam o clientelismo politico, a decadência dos valores que dão luz e calor à afirmação democrática.

Cuidar dos vivos é estimular trazendo para a militância democrática e republicana os milhões de brasileiros que se declaram desencantados com a politica que se faz hoje em dia e com os políticos que, na sua avaliação, já deveriam estar todos cumprindo penas por peculato ou, no mínimo, por estelionato.

Cuidar dos vivos é não permitir que as nossas instituições democráticas sejam conspurcadas como já ensaiam o radicalismo xiita dos baderneiros que querem retomar o Poder do Estado no grito e na intimidação e a intolerância dos que quando falam em interesses do Povo não estão defendendo senão os seus próprios interesses à custa da pobreza que ainda faz sofrer a maioria dos brasileiros.

Vamos reconstruir o Brasil mirando o século XXI. Em 1959, quando Pombal mandou que as novas ruas e avenidas na reconstrução de Lisboa fossem muito mais largas que as anteriores, não faltou quem criticasse. “Serão muito mais largas, sim, mas no futuro não faltará quem diga que são muito estreitas”.

 

edson vidigal

Por Edson Vidigal, é advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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