20/09/2016 11:49
”O discurso de hoje do presidente da Republica em Nova York, dificilmente servirá de parâmetro para suposições de nossa política interna.”
Desde que Michel Temer assumiu em definitivo a presidência da República, pelo menos quatro vezes o governo avançou e recuou das reformas trabalhista e da Previdência Social. Juntas ou em separado, elas foram anunciadas e adiadas, ora pelo presidente, ora por seus ministros. Ao mesmo tempo, variam os detalhes sobre o conteúdo de ambas. Um dia ouve-se que direitos sociais serão suprimidos, no outro que “não sou idiota para revogar prerrogativas do trabalhador”.
Essas reformas também são antecipadas e prorrogadas em seus prazos para chegar ao Congresso. Antes ou depois das eleições? Este ano ou no próximo?
Muita gente conclui que nada foi decidido até agora, sequer estar certo se teremos ou não reformas. O recente choque entre os procuradores de Curitiba e o Lula, com o PT a tiracolo, faz prever um embate olímpico no Congresso, quando os projetos chegarem lá. Não só os companheiros pretendem obstar iniciativas impopulares. Ignora-se a verdadeira reação do PMDB e do PSDB. “Depende” dizem seus líderes, significando que aprovação e rejeição relacionam-se menos com o conteúdo das mudanças do que com a capacidade de o governo atender as reivindicações de suas bases partidárias. As demais legendas de apoio ao presidente Temer são mais complicadas.
Em suma, nem no ministério há certeza de nada, pois Eliseu Padilha e Henrique Meirelles não falam a mesma língua.
O discurso de hoje do presidente da Republica, na Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York, dificilmente servirá de parâmetro para suposições de nossa política interna.
NEM TROMBONES NEM TROMBETAS
Agripino Grieco, o mais cáustico de nossos criticos literários, fazia a barba e cortava o cabelo durante anos a fio com o mesmo barbeiro. O fígaro contava sempre estar trabalhando na elaboração de um romance que ultrapassaria os méritos do D. Quixote, mas sempre que pedia ao cliente para ler uns capítulos, recebia educadas recusas pela falta de tempo. Tendo completado a obra máxima, resolveu arriscar: “Peço que pelo menos me dê a honra de escolher o título”.
Grieco, para livrar-se do incômodo autor, concordou, dizendo que não precisava ler uma página sequer, e surpreendeu o nosso Cervantes dos trópicos:
“O seu livro tem trombones?”
Diante da inusitada negativa, indagou:
“E trombetas?”
“Também não”.
“Então aí está o seu título: “Nem trombones nem trombetas”…
Por Carlos Chagas