11/04/2017 00:55
”O presidente ainda não assumiu a presidência, isto é, ainda não atentou para o dever de pensar e agir autonomamente, regente que é da orquestra, comandante constitucional que é de nosso destino.”
A recuperação da economia anda a passos lentos, enquanto o governo tenta, esforçadamente, é verdade, retomar o curso que conhecemos em passado recente. O importante é não desfocar a ação diária, erguendo gestos, palavras e obras, visando ao soerguimento de nossa soberania econômica continental. As idas e vindas conformam um ambiente natural, porque não temos um Zeus à frente desta batalha que se trava continuamente. E nem dispomos de um oráculo para nos apontar o caminho. O melhor, com certeza, é fazer com que o nosso czar da economia pesquise como o fenômeno se instalou e foi expulso dos países que experimentaram castigos como os que nos açoitam, que o país se contorce para livrar-se deles. É a história que sempre nos revelará a solução, até mesmo as agruras, pois a história é uma ressurreição, como nos ensinou Michelet. E consultando a história, em episódio mais recente, vamos encontrar crise paralela no sempre tão lembrado crack de 29, ocorrido na nação americana no final do terceiro decênio do século XX, que nos dá os melhores remédios, oferecendo uma farmacopeia de antídotos para combater o mal que resiste a medidas (até hoje ortodoxas) aplicadas aqui e acolá. As circunstâncias não são as mesmas, é claro, pois lá a crise ocorreu em face do recuo das importações até então promovidas pelos europeus, pois, refeitos da tragédia da grande guerra, já produziam satisfatoriamente para o próprio mercado, dispensando as importações. Daí desencadeou-se a situação crítica e verdadeiramente dramática a que foram levados os EE.UU., com a consequente quebra e desemprego de milhões de americanos.
Não esmoreceram nossos irmãos do norte. O icônico presidente Franklin Roosevelt, homem determinado, de pulso firme, um cadeirante que se agigantou na liderança inconteste sobre a América, inaugurou no país o que ele batizou de política do New Deal, vale dizer, o governo começou a aplicar maciçamente em obras de infraestrutura – rodovias, ferrovias, energia elétrica, aeroportos e demais equipamentos de que necessitava o país – uma iniciativa com absoluto amparo popular e dos sindicatos, que reduziu drasticamente o desemprego e possibilitou o soerguimento da economia em breve tempo. A dupla Lula-Dilma tentou imitar o exemplo americano com o Plano de Aceleração do Crescimento, mas, infelizmente, estava ele recheado de corrupção e má fé, que o comprometeu na sustentação política e popular de que precisava para cumprir o objetivo. Apodreceu.
Enquanto isso, o Banco do Brasil segue absoluto, insensível, como não fora ele nosso maior agente empreendedor. Fundado pelo visionário D. João VI, o BB (seus dirigentes, melhor dizendo) fechou agências, reduziu o crédito (ainda caro), estimula aposentadorias, com isso se onerando e perdendo seiva preciosa e insubstituível que é seu material humano, mantém juro alto e não ampara o pequeno empreendedor, este pequeno mas valiosíssimo elo na cadeia econômica. O presidente ainda não assumiu a presidência, isto é, ainda não atentou para o dever de pensar e agir autonomamente, regente que é da orquestra, comandante constitucional que é de nosso destino. Aumentar imposto é providência jurássica e irresponsável. O doutor Meirelles, amigo antigo dos EUA e presença constante na buliçosa e bela Washington, sabe melhor como os americanos geriram seu problema, mais aflitivo e mais grave naquela melancólica América de 1930.
Pois então, imite-a.
Por José Maria Couto Moreira é advogado.