20/05/2017 09:50
Riscos geopolíticos e perigos de ordem estrutural podem causar empecilhos ao crescimento da economia global, segundo o FMI
O FMI registra a recuperação da economia mundial, mas faz isso com grande cautela, nem todas de natureza econômica. No seu relatório sobre perspectivas globais, verifica que a economia global está crescendo e vai continuar assim, a ritmos aceitáveis, de 3,5% e 3,6% neste e no próximo ano, em comparação com os 3,1% em 2016. O até há pouco agonizante investimento impulsiona essa moderada expansão, mas também o comércio global e a inflação recuperam o crescimento, deixando para trás os temores da onda deflacionária, temida especialmente na zona do euro. Na área da moeda europeia, depois de crescer 1,6% no ano passado, haverá crescimentos de 2,3% e 2,5%, algo desconhecido desde o início da crise.
Mas o FMI acerta ao avisar que a sustentabilidade desse ritmo exige superar os obstáculos de caráter estrutural e os riscos geopolíticos que continuam pesando sobre as economias avançadas. Entre os primeiros, a baixa produtividade e a elevada desigualdade na distribuição da renda continuam sendo os mais destacados. As tentações protecionistas fazem parte do segundo grupo. Mas é preciso incorporar decisões em curso que continuam cercadas de incerteza, como o Brexit.
Os dois riscos vêm de duas das economias mais importantes, os EUA e o Reino Unido, altamente integradas, que levam ao temor sobre as repercussões globais das decisões de seus Governos. Por isso o Fundo acerta ao alertar sobre os riscos de uma diminuição dessas previsões e sugere que as políticas econômicas têm um papel importante a desempenhar na neutralização, mesmo parcial, dessas ameaças. Para a Europa, as lições de uma austeridade fiscal mal administrada são relevantes, como é a recomendação de prudência ao Federal Reserve por causa dos aumentos previstos da taxa de juros. As políticas de demanda continuam sendo o principal instrumento dos Governos para não abortar essa recuperação.
A economia espanhola vai continuar sendo uma das que mais crescem no grupo avançado. Os 3,1% de 2016 serão seguidos por 2,6% e 2,1% em 2017 e 2018. Menos relevante que essa desaceleração é a vulnerabilidade da nossa economia às condições externas: a continuidade de uma política monetária expansionista do BCE e que os preços das matérias-primas continuem equilibrando nossas contas. Por isso é importante compensar esses eventuais ventos externos. É preciso reforçar a confiança das famílias com rendas mais baixas, fixando a demanda interna e reduzir os fatores de risco, como a coesão territorial, que podem condicionar a recuperação.
Editorial divulgado pela edição do Brasil El País