22/06/2017 11:42
“Tudo que é demais não existe”. Por declarar demais, com vistas a sua permanência em liberdade (…), o esperto empresário goiano cometeu duas contradições sobre Temer e Loures”
No passado, o profissional que mais corria risco de morte prematura era o jornalista. Hoje, com o atropelo da vida e com um mundo cada dia mais conturbado, esse risco certamente aumentou. As redes sociais, que disputam a hegemonia com veículos tradicionais de comunicação social, colaboraram bastante para esse aumento. Refiro-me à morte natural (mas injusta), se é que se pode chamá-la assim. Sua causa mais provável era (e é) o permanente estresse provocado pelo “senhor fato”, imponderável pela própria natureza. A outra morte, por vingança dos poderosos, talvez seja uma segunda causa. Ela, todavia, não faz distinção de idade. Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, o Brasil acaba de conquistar mais um título – o de detentor, atualmente, do maior número de jornalistas assassinados nas Américas.
Por essas razões, talvez, mas também por outras que ainda perduram na cabeça de algum poderoso, que gostaria de ter, sempre, um a tiracolo, o jornalista já foi objeto de algumas benesses, que se tornavam quase desconhecidas quando vindas do poder público. Uns cediam, outros, não. Houve época, por exemplo, em que jornalista não pagava Imposto de Renda e, como aconteceu em várias partes do país, ainda ganhava terreno para construir seu modesto teto. Essas benesses desapareceram há muitos anos. Enfim, devemos ser iguais perante a lei.
A morte de Jorge Bastos Moreno, aos 63 anos, pode ser mais um aviso aos colegas mais novos. É preciso, nas crises, muita paciência e bastante caldo de galinha, que nunca fizeram mal a ninguém. Moreno ainda teve uma auxiliar de fato quase irresistível, que, aliada à ansiedade profissional (uma das virtudes do bom repórter), o ajudou a partir mais cedo – a boa mesa e, em volta dela, os bons companheiros.
No exercício de uma profissão espinhosa e, às vezes, ingrata, Moreno poderia ter incluído em sua dieta bem mais caldo de galinha. Ela o levaria a ficar mais tempo entre nós para usufruir da legião de amigos que fez. Mas outras iguarias, também irresistíveis, lhe foram sendo oferecidas ao longo dos anos. A gravíssima crise atual, bastante insinuante, foi uma delas, mas a despudorada prática política a que se acostumou o país, profundamente desaforada, iguaria sobre a qual Moreno dissertava com enorme destreza, colaborou, indiscutivelmente, para lhe aumentar o estresse e triplicar o já enorme risco no qual vivia.
Ao falar dessas coisas, não sei se sou um eterno e persistente otimista ou se apenas aprendi a relativizar a ansiedade ou a combater o pessimismo, que, com ou sem razão, se instala no interior do ser humano. A causa dessa intromissão pode estar na finitude da vida.
A atual crise porque passa o país – política, econômica e social – aumenta a pressão sobre cada um de nós. Sobressaem-se, nesse quadro confuso e complexo, nossas instituições democráticas, que resistiram, por exemplo, ao severo empuxo das denúncias de Joesley Batista à revista “Época”. Sua repercussão foi menor do que se poderia esperar, em razão deste dito, que está no inconsciente popular: “Tudo que é demais não existe”. Por declarar demais, com vistas a sua permanência em liberdade (o que será difícil, aqui e nos Estados Unidos), o esperto empresário goiano cometeu duas contradições (sobre Michel Temer e Rodrigo Loures).
Muita água ainda correrá por debaixo dessa ponte.
E só no fim, leitor, saberemos o que de fato aconteceu.
Por Acílio Lara Resende