29/06/2017 10:44
”Por outro lado, mesmo com a renúncia de Temer, sem mudança do sistema eleitoral e sem investimento maciço na educação, não acabará com a corrupção nem com anos de prática política…”
Não disponho de bola de cristal nem jamais acreditei nela. Está aí uma das razões por que discordo de toda sugestão radical, sempre contrária à Constituição de 1988, para se debelar a crise por que passa nosso país. Todavia, a menos que o presidente Michel Temer tenha nas mãos uma bala de prata, que seria a defesa incontrastável de sua inocência, considero que sua renúncia poderia servir para suavizar os efeitos dessa crise terrível, cujos efeitos negativos recaem sobre milhões de brasileiros. É nisso que Temer, deixando de lado os amigos e companheiros, deveria pensar para decidir. Pois, para ele, o tempo urge.
Por outro lado, sem as reformas (algumas já estão no Congresso), não só na economia, mas, sobretudo, na política – pois é esta que, regida pela ética, deve comandar o espetáculo -, não sairemos da situação caótica em que nos meteu boa parte da classe política. Essas reformas também viriam mais rapidamente se o presidente Michel Temer contribuísse com sua renúncia – um gesto altivo e de desprendimento.
Por outro lado, mesmo com a renúncia do presidente Temer, o tratamento policial e/ou judicial, qualquer que seja a instância, sem mudança do sistema eleitoral e sem investimento maciço na educação, não acabará com a corrupção nem com anos de prática política, cujo principal paradigma foi sempre este: em política, pecado é não ganhar eleições. Nosso processo eleitoral foi montado sobre mais esta máxima, aceita pelos que enxergam a política como negócio: a democracia é um regime caro, e sem dinheiro não se ganha eleição. Daí para cá, o caixa 2 foi um pulo. E, deste para a propina, foi outro pulo.
A propósito do caixa 2, é oportuno lembrar que o estadista alemão Helmut Kohl, principal arquiteto da unificação de seu país, mentor de Angela Merkel, um ano depois de deixar o governo, foi acusado de tê-lo praticado. Primeiro, negou sua existência. Mais tarde, admitiu que cerca de US$ 2 milhões de doações (em torno de R$ 7 milhões) não constaram de sua declaração. Seu partido pagou multa pesada, e Helmut renunciou a sua presidência e, depois, à vida pública. O ex-chanceler disse a verdade, mas não liberou os nomes dos doadores. Foi logo depois da descoberta do chamado “marketing político”, uma invenção diabolicamente criativa, que nosso sujo processo eleitoral se deteriorou ainda mais e conquistou dimensão inimaginável. Ninguém se atrevia, até ontem, a enfrentar campanha para cargo eletivo, do menor ao maior, sem um “marquetólogo” a tiracolo, obviamente muito bem-pago. As campanhas, sem exceção, se tornaram peças de teatro mambembe. Escorado na mentira ou na mistificação, o “marketing político” ajudou a eleger centenas de candidatos corruptos país afora.
Finalmente, já um pouco atrasado, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, conforme revelam notícias da imprensa, pretende oferecer suspensão condicional do processo da operação Lava Jato a deputados e senadores (e a vereadores, prefeitos e governadores, nada?) que estão sendo (ou podem vir a ser) acusados de uso de caixa 2, mas sem que estejam vinculados a atos de corrupção. O Ministério Público Federal entende que isso ocorre quando o candidato recebe doação, não oferece contrapartida nem registra a movimentação financeira respectiva na Justiça Eleitoral, na época de sua prestação de contas, após as eleições.
A separação entre o joio e o trigo veio tarde. Aos olhos do povo, a classe política está destroçada!
Por Acílio Lara Resende