Opinião – A prática que tomou conta da política brasileira

08/08/2017 17:10

”Não há pudor em se exigirem benefícios pessoais, dinheiro vivo mesmo, para se alinhar com determinado grupo, ajudando na formação de uma base parlamentar.”

Há uma onda de falsa indignação com os métodos de convencimento utilizados pelo presidente Michel Temer nas votações da reforma trabalhista e da autorização para abrir, contra ele, processo por corrupção.

Quem acompanha a política brasileira desde a chamada “redemocratização” sabe que não há nada de novo sob os céus de Brasília. As práticas não são novidade. José Sarney assumiu a Presidência da República com a morte de Tancredo Neves e, para ter um ano a mais de mandato, negociou com o Congresso Nacional, por meio dos parlamentares do chamado “centrão”, cujo lema era “é dando que se recebe’, em cifras infinitamente menores do que as praticadas hoje.

Fernando Collor, o primeiro eleito pelo voto após 1964, não quis negociar com o Congresso Nacional, não por ser incorruptível, mas porque se achava o tal, e perdeu o mandato acusado pelo irmão Pedro Collor de roubalheira no governo federal.

Assumiu Itamar Franco, que fez um governo correto. Fez Fernando Henrique Cardoso seu ministro da Fazenda para implantar o Plano Real. Depois, com mais de 80% de aprovação, elegeu FHC. Deslumbrado com o poder, FHC abriu as burras, pagou o preço do Congresso e implantou a reeleição.

Veio Lula, que fazia um governo morno, sem grandes novidades, até estourar o mensalão, denunciado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson. Para se manter, Lula também abriu o balcão de negócios com o Congresso Nacional e despejou dinheiro em programas sociais de conveniência. Ficou, reelegeu-se e ainda fez de Dilma Rousseff sua sucessora.

A “presidenta” gostou da cadeira, traiu Lula, que pretendia retornar, comprou apoios e votos e se reelegeu. Tratou mal o Congresso, e veio o impeachment. Michel Temer assumiu, viu vários de seus auxiliares serem abatidos por denúncias de corrupção, até ser atingido pelas delações do empresário Joesley Batista. Como velho conhecedor do Congresso, sabia que teria que negociar. Seguiu a regra e ficará até o fim do mandato. Como não pretende a reeleição, não terá que pagar tanto. Mas ainda terá que pagar algo. É do jogo. Desde quando, ninguém sabe. Talvez desde sempre. Afinal, Cabral não comprou a amizade dos índios com espelhinhos?

Negociações são da essência da política. Busca de consenso exige concessões, que são da boa prática política. Nosso problema é que, ao longo dos anos, a negociação política ficou rasteira. Não há pudor em se exigirem benefícios pessoais, dinheiro vivo mesmo, para se alinhar com determinado grupo, ajudando na formação de uma base parlamentar. Isso quando a negociação não se dá no varejo, em relação a uma votação específica.

É o pragmatismo safado que tomou conta da política brasileira. Virou erva daninha, e já não sabemos como exterminá-la. Com certeza, não será pela reforma política que está em discussão no Congresso. Feita por quem está sendo feita, não é coisa para ser levada a sério.

 

Por Paulo César de Oliveira

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