16/05/2018 13:09
”Eis por que o ex-presidente, preso, continua com a iniciativa. E isso dá sentido à tática petista de lançar a candidatura dele e ir com ela o mais longe possível”
O mercado financeiro anda nervoso, dizem, com as últimas pesquisas. Uma razão, dizem também, é a anemia dos candidatos ditos de centro. Talvez devêssemos pedir um desconto na compra dessa versão, pois o nervosismo cambial parece afetar os emergentes em bloco. Mas alguma coisa está dando errado no roteiro das conexões projetadas entre economia e política.
O motivo parece claro: os resultados da ponte para o futuro, do consórcio que fez trocar Dilma Rousseff por Michel Temer, não parecem sensibilizar o eleitor a ponto de convencê-lo a decidir pela continuidade. E, assim como a maioria do eleitorado apoiou dois anos atrás aquela mudança, os levantamentos de intenção de voto indicam propensão a uma nova troca de guarda.
Importa menos aqui argumentar que a dose do remédio foi insuficiente, ou que o tratamento dará certo se o paciente esperar mais tempo pelos resultados: infelizmente, os dois turnos da eleição estão marcados para outubro. Isso implica que o resultado da urna será fortemente impactado pelo estado de ânimo do eleitor em agosto/setembro. É como as coisas funcionam.
Daqui até lá, os candidatos precisarão treinar ideias e colocar algumas propostas no forno, que ajudem a responder isto: para a economia crescer e gerar empregos, em quantidade e de qualidade, a melhor receita é mais Estado ou mais mercado? E tem os corolários, um deles como fazer para melhorar a situação da previdência social, esse abacaxi e tanto.
Em mais uma constatação de que não existe almoço grátis, se Dilma ainda estivesse no Planalto o PT estaria enredado no desafio de explicar por que produziu uma recessão recorde, e o liberalismo econômico estaria confortável em vender-se como a salvação da lavoura. Mas o governo Dilma foi para os arquivos, e o argumento eleitoral do PT serão os oito anos de Lula.
E atacar o PT, Lula, Dilma, terá efeito apenas relativo. É um engano achar que o petismo mostrou resiliência no poder porque atacou Fernando Henrique e o PSDB. O PT no poder ganhou três eleições seguidas porque seus resultados foram melhores, na percepção. As circunstâncias ajudaram? Isso não tem a menor importância como argumento de venda para o eleitor.
As pesquisas mostram um cenário em boa medida congelado, com um terço pelo menos do eleitorado à espera da definição de se Lula será candidato. Ou, numa proporção menor, quem será o candidato apoiado por Lula. Aqui, interpretações de viés messiânico vão errar: o pessoal não está aguardando cegamente a palavra do líder, espera pelo portador de alguma boa nova.
A opinião pública anda entretida com ideias vazias de significado popular, como o tal “centro”, ou então teses que impactam muito lateralmente, como o “novo”. Esqueceram que precisam responder o “para fazer o quê?”. E o PT aproveitou esse lapso, de tempo e de ideias, para consolidar no eleitorado dele a saudade dos tempos de Lula, e da figura de Lula.
Eis por que o ex-presidente, preso, continua com a iniciativa. E isso dá sentido à tática petista de lançar a candidatura dele e ir com ela o mais longe possível. E ir observando os acontecimentos. E, na hipótese razoável de nenhum outro conseguir encarnar com força a esperança de dias melhores para o povão, aparecer, aí sim, com uma novidade. Esse parece ser o desenho.
Se vai funcionar, os fatos, sempre eles, dirão. Tudo sempre pode dar errado. Ainda mais num cenário confuso e complexo. Mas algum otimismo petista é justificável, pois os outros atores têm dado uma boa ajuda.
Por Alon Feuerwerker, 62 anos, é jornalista e analista político e de comunicação na FSB Comunicação. Militou no movimento estudantil contra a ditadura militar nos anos 1970 e 1980. Já assessorou políticos do PT, PSDB, PC do B e PSB, entre outros. De 2006 a 2011 fez o Blog do Alon. Desde 2016, publica análises de conjuntura no blog alon.jor.br