Opinião – O preço da inconsequência

03/07/2018 12:12

”…os mais degradantes desmandos, todos de custoso sustento, verdadeiros sorvedouros de recursos que deveriam ser destinados pelo poder público à promoção e ao avanço da sociedade”

O tempo está passando rápido, para especial alegria daqueles que contam com a boa vontade e a inércia do Judiciário. E, para ajudar, o STF entrou em férias por 30 dias, mantendo de plantão apenas sua presidente, Cármen Lúcia, reservada para tomar eventuais decisões que não puderem esperar pela volta dos companheiros da Corte, com seus assessores, capinhas, seguranças, motoristas e empurradores de poltronas. Levando-se em conta que cada ministro do STF tem a seu serviço 220 funcionários, 2.200 estão unicamente ocupados com o nada. Melhor assim. Glória a Deus!

Absurdo esse sentimento, mas é notável como se respira com certo alívio quando em Brasília as instituições se acham operando a meia-boca, independentemente do poder a que estejam vinculadas e das responsabilidades que a Constituição formalmente lhes reserva.

Um exemplo disso foi a decisão, ao apagar das luzes, do ministro Ricardo Lewandowski, aquele que desastradamente presidiu no Senado o impeachment de Dilma Rousseff, deixando-a habilitada para, depois de tanta burrice, lambança e corrupção, ainda poder disputar cargos eletivos, com a ameaça de que possa vir a ser, segundo fontes bem-informadas, candidata ao Senado por nossa já tão sofrida Minas Gerais. “Só Deus na causa”, para iluminar a nós, mineiros, e nos livrar desse agravo.

Voltando a Lewandowski, nosso ministro do STF decidiu suspender, em medida liminar, o leilão com o qual se sonhava para privatizar a Ceal (Companhia Energética de Alagoas), um cadáver em forma de concessionária de energia elétrica, totalmente falida e posta à venda por um lance inicial de R$ 50 mil (quase o preço de um carro popular com alguns opcionais). Isso para que os alagoanos – já punidos por terem tido, na produção de seus fracassos, o concurso de nomes como Fernando Collor, Renan Calheiros pai e filho, os Liras, atores de toda sorte de tragédias sempre em profusão – pudessem tirar de suas costas encargos gerados dentro de uma empresa estatal por políticos escolhidos a dedo. Estes foram naturalmente selecionados pela incapacidade de cada um deles e conseguiram produzir um quadro desastroso, cujos números expressam um endividamento de R$ 1,98 bilhão, com prejuízos de R$ 920 milhões, acumulados nos últimos cinco anos.

Trata-se de um quadro de total inviabilidade econômica e financeira e sem créditos, a não ser se forem tomados em bancos públicos, para não serem pagos. Esse bonde chamado Ceal, assim não enxergado pelo ministro Lewandowski e por seus assessores, já não poderá ser leiloado, porque há um questionamento do Estado de Alagoas sobre um passivo que tal concessionária deve aos cofres do governo. Suspensa essa privatização, duas situações são certas. Primeiro, nós, contribuintes brasileiros, continuaremos a pagar, em impostos sempre majorados pelas necessidades do Tesouro, o preço da histórica má gestão que o Estado brasileiro sempre representou. E, ainda, esses cadáveres insepultos, chamados de “empresas estatais”, continuarão dentro de armários à espera de abrigar políticos malsucedidos em eleições ou outra classe de apaniguados, destacados para praticar, com raras exceções, os mais degradantes desmandos, todos de custoso sustento, verdadeiros sorvedouros de recursos que deveriam ser destinados pelo poder público à promoção e ao avanço da sociedade. Enquanto houver tais posturas, resta-nos pagar a conta.

 

 

Por Luiz Tito Cerasoli, 48 anos, engenheiro de telecomunicações, trabalhou na Standard Eletric, na Telesp e Embratel. Passou pelo Ministério das Comunicações como diretor de tarifas e preços e foi um dos superintendentes da Anatel.

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