Opinião – Haverá um torniquete capaz de cingir a polarização de 2018?

06/08/2018 11:52

”Estaremos nós dispostos a olhar no espelho e encararmos a realidade sem a cacofonia dos discursos populistas, mas com a frieza cinza da realidade nua e crua?”

A história da campanha deste ano já está contada: é pá, pum; é lai, lou; é preto no branco; é lá ou cá; é nós ou eles. Enfim, 2018 possui dois polos muito bem definidos até agora.

De um lado, Bolsonaro com toda a sua exuberância de fenômeno eleitoral, toda a sua nitidez esplendorosa para seu eleitorado, toda o seu ofuscante brilho de mito que enfeitiça legiões de apoiadores. De outro, o mais épico calvário político contemporâneo, protagonizado pelo PT e por seu Messias, Lula, a quem caberá indicar quem será seu Pedro, o fundador de sua Igreja, seu continuador, após sua crucificação eleitoral, caso –é claro– Lula não produza o milagre da ressurreição.

São essas narrativas eletrizantes e poderosas que galvanizam as emoções de um eleitorado um tanto anestesiado com a mesmice em que se transformou a política, depois que o bueiro da Lava Jato foi escancarado e tudo de repente veio à superfície.

A campanha se inicia predestinada a ser uma grande final de Wimbledon: dois furiosos em campo e pescoços se movendo como para brisas de um lado para outro, vendo os golpes extremos desferidos pelos antagonistas com toda força e violência. E a grande questão que fica é: existe jogo de meio de campo no tênis? Dá para jogar uma partida inteira junto à rede? E em 2018: como jogar no centro e vencer o campeonato?

Essa é a incógnita mais fascinante da eleição e também a mais improvável, olhando-a de seu ponto de partida (atenção, o improvável na política costuma ser o mais provável em grande parte das vezes. Portanto, a improbabilidade inicial não significa nada): será que algum torniquete de centro irá surgir e será capaz de amarar os extremos e espremer a eleição para o núcleo do espectro ideológico? Como essa força se imporia? Por que? Do ponto de vista “racional”, a escolha mutuamente excludente da polarização parece empobrecedora. É a típica “ou, ou”. Ou isso, ou aquilo. É melhor algo que agregue mais: isso e aquilo. Mas será possível?

As forças magnéticas das candidaturas polares de direita e esquerda são tão faiscantes, tão arrebatadoras, tão eletrizantes, que qualquer energia de equilíbrio, bom senso e sensatez que substitua esse coquetel de adrenalina parece um convite ao tédio ou à monotonia.

Estará o eleitorado apto a se apaixonar pela razão e não pelo canto sedutor das palavras de ordem, dos modos histriônicos, dos discursos oportunistas? Estaremos nós dispostos a olhar no espelho e encararmos a realidade sem a cacofonia dos discursos populistas, mas com a frieza cinza da realidade nua e crua? A eleição deste ano não vai revelar candidatos. Vai revelar todos nós: os eleitores. Nossa escolha vai nos mostrar o que somos.

 

 

Por Mario Rosa, 53 anos, é 1 dos mais renomados consultores de crise do Brasil. Pede que em sua biografia seja incluído o fato de ter sido jurado de miss Brasil e ter beijado o manto verde-rosa da Estação Primeira de Mangueira. Foi o autor do prefácio do primeiro plano de gerenciamento de crises do Exército Brasileiro. Atuou como jornalista e consultor.

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