Opinião – O nó tático de Lula

31/08/2018 12:53

”E quando, finalmente, sua candidatura for impugnada, os adversários terão de conviver com o sentimento amargo de uma parcela considerável do eleitorado”

Muitas vezes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi achincalhado pelas elites e por intelectuais brasileiros. Há centenas de artigos e alguns livros nessa direção. Muitos comemoram a prisão do ex-presidente não por uma questão de justiça, mas pelo desejo satisfeito de vingança. Aquele metalúrgico sem cultura, que nunca frequentou a Universidade e atropela a concordância, não poderia mesmo ter chegado à presidência sem deixar para trás um mar de lama! Há nessa comemoração um desejo oculto de higienização, o comando do País não é para pobres e incultos.

Seria uma tolice, típica dos fanáticos, negar que Lula cometeu muitos equívocos no seu governo, uma montanha deles. Mensalão e Petrolão são reais. Os benefícios sociais distribuídos sem lastro comprometeram o equilíbrio fiscal. A partidarização do estado massacrou a eficiência e comprometeu muitas ações que nasceram positivas. Os fanáticos antiLula, igualmente tolos, sentaram no alto dessa montanha de erros e estão rindo da patuleia, sem se dar conta de quem comanda o espetáculo.

O ex-presidente foi protagonista nas campanhas presidenciais desde a primeira eleição direta pós redemocratização, em 1989. E, mesmo enclausurado, é protagonista mais uma vez.Do seu isolamento prisional, Lula dá um nó tático nos adversários, nas elites e em todos aqueles que o subestimam. Animal político, ele dita os movimentos de uma eleição que não disputará. Lula está presente em todos os debates, frequenta todos os programas políticos da mídia convencional e ocupa espaço nobre quase que diariamente nos jornais. É disputado nas redes. Da carceragem da PF em Curitiba, Lula é onipresente na campanha presidencial.

A decisão de manter a candidatura até o limite legal é um movimento audacioso e irrepreensível como estratégia política e eleitoral. Encurralou os adversários, tanto os que sonham com o seu espólio quanto os que o consideram alvo preferencial. A participação de Lula no pleito é agenda da campanha. Para os adversários que fazem muxoxo contra essa situação, qual o sentido de atacar os desvios éticos dos governos petistas se o líder máximo do partido está preso e não poderá concorrer? Como criticar a gestão petista se a situação do País está pior agora?

Para tornar o cenário mais complexo, o ataque ao governo de Michel Temer reacende a memória de um passado recente, com pleno emprego, crédito facilitado, salário mínimo valorizado, filho na escola particular, carro com tanque cheio e férias no Nordeste ou no exterior. Essa lembrança remete ao governo Lula, que enquanto se mantem no foco faz sombra ao PT. O ex-presidente sabe que é muito maior do que seu partido, fortemente rejeitado depois de tantas denúncias.

Lula cresce nas pesquisas e supera com folga todos os demais candidatos em simulações de segundo turno. E quando, finalmente, sua candidatura for impugnada, os adversários terão de conviver com o sentimento amargo de uma parcela considerável do eleitorado. Gente que não poderá votar em quem considera o melhor nome para recuperar a qualidade de vida que tinha há oito anos.

Será preciso muito exercício jurídico para tirar Lula da propaganda eleitoral e evitar que ele leve Fernando Haddad ao segundo turno.

 

 

 

Por Amauri Teixeira é jornalista e consultor de marketing político