Análise – Ao criticar Bolsonaro, Macron e Merkel agiram como ventríloquos políticos

03/07/2019 17:56

”Macron e Merkel simplesmente ‘gritaram’ para agradar sua própria torcida mas, assinaram acordo Mercosul-UE e meio ambiente nada tem a ver com o acordo”

Ao atirar pedras em Jair Bolsonaro, Angela Merkel e Emmanuel Macron simplesmente agiram para agradar sua própria torcida. Tanto é que gritaram, mas depois assinaram mansamente o acordo Mercosul-União Europeia.

A chanceler da Alemanha estava aflita com a recente vitória do Partido Verde nas eleições do Parlamento Europeu. Sua coalizão de governo tomou uma surra nas urnas. Vendo a legenda ambientalista alemã ameaçar sua liderança política, bradou pela Amazônia. Demagogia deslavada.

Na França, semanas antes, reunidos em Metz, os ministros do Meio Ambiente do G7 haviam levantado a bola da proteção da biodiversidade, na defesa do clima. Os termômetros registravam uma onda de calor jamais vista na Europa.

Quando Macron viajou para Osaka, na reunião do G7, deixou a população francesa sofrendo com o recorde de 45,1°C, apontado em Villevieille, no sul do país. Para aliviar a culpa dos países desenvolvidos no aquecimento global, atacou o Brasil.

Ao darem um pito público no presidente brasileiro, Macron e Merkel agiram como ventríloquos políticos. Triste foi ver as manchetes jornalísticas tupiniquins caírem como bocó nesse jogo do poder.

Sendo objetivo, meio ambiente nada teve a ver com o acordo Mercosul-União Europeia. Entrou apenas dos prolegômenos. As difíceis negociações, envolvendo inúmeros setores da economia e de serviços, são puramente comerciais. Businessna veia.

Agora a França diz que ainda não está pronta para assinar o acordo. Conversa fiada. Acontece que os agricultores franceses se irritaram, morrendo de medo da concorrência brasileira. Macron os enfrentou, agradando a cidade: “o Brasil se comprometeu com o Acordo de Paris e na luta pela biodiversidade.” Tudo dissimulação.

Merkel não abriu mais a boca. Os alemães parecem estar mais satisfeitos que os franceses com o acordo comercial. Agricultura conta menos na Alemanha. Seus automóveis, produtos químicos e farmacêuticos ganharão, notoriamente, mercados do Mercosul.

Nesse jogo da diplomacia mundial, conforme ficou explícito nesses dias, o maior problema do Brasil passou a ser a bola nas costas. Nossos competidores externos se aliaram com inimigos internos para denegrir o Brasil.

Bradar que nossos alimentos estão carregados de “agrotóxicos” não é apenas uma mentira deslavada. É uma campanha política contra o governo, que muito agrada aos interesses comerciais dos europeus.

É verdade que nunca se autorizou tantos defensivos agrícolas no país: foram 239 novos produtos em 2019. Todos, porém, com 1 exceção, representam novas formulações de princípios ativos já registrados há anos. Nada piorou.

Inexiste qualquer correlação entre a chegada desses agrotóxicos “genéricos” no mercado e o (suposto) maior consumo de pesticidas no campo. Mais provável é o agricultor substituir um produto antigo por um recente, mais eficiente. E menos tóxico.

Repete-se que o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Em termos absolutos, é verdade. Em termos relativos, porém, quando se divide o volume de agrotóxicos pelos hectares cultivados, o Brasil (1,2 kg/ha) fica abaixo da Alemanha (1,9 kg/ha) e da França (2,4 kg/ha). O campeão passa a ser o Japão (11,8 kg/ha).

Nada resiste à boa informação.

Por Xico Graziano, 65, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano.

Tags: