26/11/2021 09:39
”Espera-se que em 2022, ela gire para cima e sejam enxergados os horizontes da reconstrução política, social e econômica do pais…”
O tempo voa.
Gira a roda gigante de 2022.
Percebe-se sentimento de apreensão, em relação ao futuro.
O Brasil não poderá ser “ilha”, imune de enfrentar os desafios comuns a outras nações.
Cabe a indagar como garantir maior confiança, na pós pandemia.
Em princípio, deve ficar claro, que todos caminhos a percorrer serão obrigatoriamente pela via política, nunca da antipolítica.
Daí jamais justificar-se distância, rejeição a política, ou aos políticos.
Nessa conjuntura, desenha-se a polarização entre o presidente Bolsonaro e o ex Luís Inácio da Silva.
A novidade é o ex-ministro Sérgio Moro ter se lançado na disputa, com discurso mais para 2018, do que 2022.
Não se pode negar o prognóstico de que as eleições gerais serão realizadas em cenário de conflitos.
A instabilidade atinge o estado de direito, que nada mais é do que o fenômeno político, originário da necessidade de disciplinar o poder, através da lei, com respeito ao princípio da separação dos poderes.
Nos últimos anos ocorreram antagonismos entre o governo, o Congresso Nacional e o judiciário.
A viabilização da terceira via está distante.
O fiasco das prévias do PSDB colaborou para o descrédito.
O “gargalo” é a falta de alguém que assuma o indispensável discurso da “paz nacional e prioridade do social”, que o país necessita.
Observa-se a crescente radicalização política.
A economia na contramão da realidade global, tudo sob o falso pretexto de manter o “teto de gastos” para continuarem intocáveis certos “privilégios fiscais” e negado o direito a sobrevivência das multidões desassistidas.
A propósito, a Câmara dos Representantes americana aprovou um pacote de medidas sociais e ambientais – “Build Back Better” (Reconstruir melhor) -, mobilizando cerca de 1,75 trilhão de dólares (9,76 trilhões de reais), que visa resolver problemas acumulados há décadas e dar aos trabalhadores e à classe média possibilidade de lutar.
Joe Biden quer enterrar 40 anos do consenso de Washington, que se resumiu em desregulamentação, menos impostos, privatizações, e o poder absoluto dos mercados.
Como disse o professor Peter Praet “É uma sacudida brutal no sistema que busca causar efeitos imediatos nas vidas dos americanos mais pobres”.
O programa assemelha-se ao que Roosevelt fez com o “New deal” e Lyndon B. Johnson com a cobertura de saúde para aposentados e miseráveis.
Isso acontece em um país que lidera o capitalismo, acolhe a economia de mercado e não pode ser acusado de “comunista” ou “fura teto”, mesmo diante do aumento do déficit orçamentário em US$ 367 bilhões, na próxima década
O Japão é outro exemplo, através do programa multimilionário de 2,7 trilhões de reais, com o objetivo de construir uma sociedade justa, após a pandemia.
Entre as metas está a entrega de cheque de 100.000 ienes (cerca de 4.800 reais) a pessoas com baixos rendimentos e outro de valor semelhante por cada criança com menos de 18 anos, objetivando promover o consumo de produtos básicos e arcar com despesas de educação.
Aumentos salariais também foram aprovados para servidores públicos, especialmente funcionários de casas de repouso, creches, pré-escolas e assistentes sociais.
Observe-se, que o Japão com esse pacote social assumirá um “déficit” de longo prazo, que é o dobro de sua economia, de cerca de 27,8 trilhões de reais.
Nem por isso, o Governo deixou de contar com o apoio do banco central e do Parlamento.
Esses dois exemplos devem inspirar aqueles que irão disputar a eleição de 2022, sob pena da tragédia nacional não ter solução.
A sociedade está imbuída do desejo de resgatar a cidadania plena e a solidariedade social, deixando de lado radicalismos inconsequentes de esquerda ou direita, e amenizando os efeitos da complexa realidade atual.
Se vingarão no Brasil tais propósitos de mudanças socialmente consistentes, ninguém pode ainda responder.
Os candidatos terão que demonstrar firmeza e segurança, convergindo para uma “pauta de prioridades”, em cuja definição seja obedecido o aforisma bíblico do Apocalipse: “Seja quente, ou seja, frio; não seja morno, que eu te vomito”.
A característica da “roda gigante” eleitoral é que dá em cima e em baixo.
Espera-se que em 2022, ela gire para cima e sejam enxergados os horizontes da reconstrução política, social e econômica do pais, com estabilidade responsável e distribuição de renda justa.
Por Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano; ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal; procurador federal – [email protected] – @blogdoneylopes