Opinião – Mulheres na ciência: qual legado queremos deixar?

”As meninas devem ter, desde cedo, o direito e o incentivo de se imaginarem cientistas, engenheiras e astronautas”, escreve a professora Rosangela Iwasse

15/02/2022 06:00

”Limitar as escolhas das crianças é limitar sua criatividade”

O que os nomes Katie Bouman, Rosalind Franklin e Florence Sabin têm em comum?

Katie Bouman é uma jovem cientista que conseguiu apresentar a primeira imagem de um buraco negro. Rosalind Franklin contribuiu para a descoberta do formato tridimensional da molécula de DNA. Ela é responsável pela Fotografia 51, primeira imagem do formato dupla-hélice da molécula. Já Florence Sabin realizou pesquisas e obteve descobertas importantes sobre o corpo humano, sendo a primeira mulher a ocupar uma cadeira de medicina em uma universidade.

No Brasil, até as décadas de 80 e 90, quando as mulheres começaram a participar mais ativamente das pesquisas, essa área era quase exclusiva de homens. Atualmente, apesar de termos um aumento considerável da presença feminina nas áreas de pesquisa, muitas geralmente enfrentam jornadas duplas, cuidando de casa e dos filhos, dentre outras responsabilidades geralmente atribuídas a elas. Isso levou à ideia de que mulheres orientadoras não teriam tempo para dar atenção aos projetos de pesquisa e aos alunos orientados. Recentemente, um grupo de zoólogas, área da Biologia que concentra um número muito menor do sexo feminino, redigiu um artigo em resposta a uma crítica publicada na revista Nature Communications, em que se afirmava que mulheres deveriam ter orientadores homens, caso contrário poderiam interferir negativamente na formação das pesquisadoras.

Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres já somam 43% dos pesquisadores no Brasil; de acordo com a ONU, esse número cai para 30% em âmbito global. No entanto, mesmo com o aumento crescente das mulheres no campo da ciência e um cenário promissor para o futuro, elas ainda não conseguem avançar em cargos de destaque, salvo algumas raras exceções. Dos membros da Academia Brasileira de Ciências, menos de 10% são do sexo feminino.

Mesmo nesse cenário hostil, as mulheres estão conquistando cada vez mais o seu espaço em várias áreas anteriormente atribuídas aos homens. Elas têm se empenhado cada vez mais em cursos de tecnologia e saúde, abrindo um leque de oportunidades para outras mulheres, servindo de inspiração. Nesse contexto, a escola exerce papel fundamental para despertar nos estudantes a curiosidade, mostrar os caminhos para a ciência, tecnologia e pesquisa, além de instigar o interesse pelas áreas de pesquisa. Não há educação sem pesquisa, pois ela é objeto importante no processo de ensino-aprendizagem.

Enquanto os meninos são estimulados desde cedo com blocos de montar, naves espaciais, e podem ser bombeiros, cientistas, policiais, as meninas ainda ficam restritas às opções consideradas como convencionais do universo feminino. Crianças devem ser estimuladas a fazer suas escolhas de brinquedos, pois, enquanto brincam e imitam a realidade, estão se preparando para o futuro. As meninas devem ter, desde cedo, o direito e o incentivo de se imaginarem cientistas, engenheiras e astronautas. Limitar as escolhas das crianças é limitar sua criatividade.

Como forma de incentivar mais participação das mulheres na ciência, a ONU criou o Dia Internacional das Mulheres na Ciência, comemorado no dia 11 de fevereiro. Que esse dia 11 seja mais que um dia no calendário de datas comemorativas. Que seja um dia para que todos nós, enquanto educadores, pais e sociedade, possamos refletir sobre o nosso papel nesse legado.

 

 

 

 

Por Rosangela Iwasse é professora de Biologia do Colégio Positivo.