”Durante a pandemia, alguns artistas e jornalistas brasileiros chegaram a invejar o país vizinho, pois lá sim, havia um presidente de verdade, alguém que seguia a ‘ciência’ ”, escreve Rodrigo Constantino
22/02/2022 07:02
”Agora que o fracasso se torna cada vez mais evidente e inegável”
O governo da Argentina anunciou que planeja criar uma empresa nacional de alimentos. Trata-se de uma nova tentativa de conter a inflação após o fracasso da política de controle de preços implementada nos últimos meses. O anúncio foi feito pela porta-voz do governo, Gabriela Cerrutti, que disse que a medida permitirá que os alimentos de pequenos e médio produtores cheguem às famílias com os preços mais baixos.
O anúncio ocorre dias depois de o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) ter informado que a inflação subiu 3,9% em janeiro, “apesar” de o governo ter implementado um controle de preços por meio de acordos com associações empresariais de diferentes setores. A inflação anual oficial na Argentina chegou a 50,7% e está entre as mais altas do mundo.
As ações do governo lulista na Argentina são tão previsíveis que chegam a provocar bocejos em analistas liberais. O austríaco Mises, por exemplo, que teve palestras feitas justamente na Argentina que ficaram eternizadas no breve livro “As Seis Lições”, já antecipava o modus operandi estatizante. Diante de um problema como a inflação, o estado anuncia o controle de preços. Isso não funciona, gera escassez, mercado negro e a inflação segue alta, então o estado parte para a nacionalização de indústrias, criação de estatais etc.
E, naturalmente, nada disso funciona. Ao contrário: os problemas vão se agravando, e o governo intervencionista vão expandindo os tentáculos do Leviatã ainda mais, até chegar ao “socialismo real”, ao controle quase pleno da economia. Para manter essa situação, o autoritarismo se faz necessário. Prender empresários “insensíveis”, impedir remessas de câmbio, impor produção e preço praticado pelas empresas, essas e outras medidas absurdas se tornam frequentes.
Até que as liberdades mais básicas tenham desaparecido por completo. Nesse estágio, basta olhar para a Venezuela para conhecer o destino final. É a total destruição de uma nação, o único resultado possível por meio das medidas estatizantes radicais. O socialismo leva inexoravelmente ao caos, miséria e opressão. Não por acaso foi assim em todas as experiências, em cada canto do mundo, com culturas diferentes e em épocas distintas.
Durante a pandemia, alguns artistas e jornalistas brasileiros chegaram a invejar o país vizinho, pois lá sim, havia um presidente de verdade, alguém que seguia a “ciência”. Agora que o fracasso se torna cada vez mais evidente e inegável, essa turma se faz de sonsa, finge que a Argentina sequer existe, ou puxa da cartola a desculpa esfarrapada de que o país é “complexo”, enquanto culpam Bolsonaro por todos os males do Brasil – talvez um país bem simples, né?
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.