Opinião – Guerra ou guerras?

”Uma guerra entre Rússia e Ucrânia surpreende o mundo. Especialmente porque era uma guerra perfeitamente capaz de ser resolvida antes no campo da diplomacia”, escreve Onofre Ribeiro

09/03/2022 06:37

”O mundo que sairá dessa guerra será outro; sairá arranhado, mais sofrido, mais pobre”

Imagem: arquivo/Correio da Semana

Uma guerra teoricamente fora de época. Esperava-se que o mundo não precisasse mais de guerras pra resolver eventuais pendências. Ainda mais depois da pandemia do corona vírus e de todos os seus desdobramentos. Esperava-se que a humanidade tivesse aprendido a leveza da vida.

Mas, de repente, uma guerra entre Rússia e Ucrânia surpreende o mundo. Especialmente porque era uma guerra perfeitamente capaz de ser resolvida antes no campo da diplomacia. O pior é que não é uma guerra só. São várias guerras dentro da guerra. Vamos lá:

1- A guerra de armamentos. Esta ainda está numa fase de ameaças e de pouco confronto armado. Mesmo sabendo-se que o arsenal nuclear russo é imenso.

2- A guerra tecnológica. Esta vai se revelando nos sistemas de hackers e de  penetração nos sistemas ucranianos e dos países vizinhos. Pode causar destruições imensas nos sistemas de vida e de negócios da Ucrânia e de quem mais precisar;

3- A guerra econômica. Na forma de sanções, boicotes e exclusão russa dos sistemas bancários mundiais;

4- A guerra comercial. Proibida de comprar e de vender pro mundo externo, a Rússia enfrenta grande pressão econômica e financeira internas. A guerra comercial. A Rússia é um país com o PIB semelhante ao do Brasil, mas com  um aparato tecnológico extraordinário remanescente da Guerra Fria. É grande produtora e exportadora de grãos, de petróleo, de gás natural e de fertilizantes para o mundo. Se a Rússia deixar de vender e de comprar, a guerra deixa de ser um confronto regional com a Ucrânia e países vizinhos e alcança o mundo todo;

5- A guerra diplomática. Conversações que não deram resultado até agora ainda podem ser uma alternativa pra guerra não tornar-se um conflito muito maior envolvendo a Europa, a OTAN  e até mesmo a China;

6- A guerra da energia. No primeiro momento o gás natural fornecido pela Rússia atinge em cheio os países europeus tradicionais compradores, com destaque para a Alemanha.

7- A guerra do petróleo. Em dezembro do ano passado, há menos de 3 meses, o barril do petróleo custava U$ 90. Hoje está em U$ 140 e tende a subir mais. Além do desequilíbrio no fornecimento, tem os efeitos em cascata sobre a economia mundial. Fretes mais caros, comida mais cara, produção agrícola e industrial mais cara. Resultado: empobrecimento social e inflação crescente;

8- A guerra dos fertilizantes. No caso brasileiro a Rússia e Ucrânia participam com fornecimento de algo como 25 milhões de toneladas ou 30% do consumo. Além da falta causada pelas sanções econômicas, tem a falta de produto pra produção de alimentos nas próximas safras:

9-  A guerra do dólar. O dólar vai subir no caso brasileiro, trazendo juros mais altos, combustíveis ainda mais caros e o endividamento público e privado vai ficar insustentável.

10-  A guerra expansionista. Tanto a Rússia deseja espaços estratégicos na Europa, quando a OTAN tem os mesmos desejos. Essas ambições são muito mais perigosas do que qualquer dos itens citados acima. São os piores atores, que sempre provocaram todas as guerras no mundo inteiro desde a década de 1950. São os pais da Guerra Fria, que durou de 1949 até 1991: EUA e União Soviética, liderada pela Rússia.

O mundo que sairá dessa guerra será outro. Sairá arranhado, mais sofrido, mais pobre e mais dominado por interesses das grandes potências. A humanidade nada aprendeu nesses últimos 77 anos depois da segunda guerra mundial.

 

 

 

 

 

Por Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.