A oposição tem usado isso para culpar Bolsonaro pela alta de preços no Brasil, ignorando não só a pandemia como a guerra, mas os preços subiram menos no Brasil do que nos Estados Unidos e na Europa, escreve Rodrigo Constantino
14/04/2022 17:15
”Vale notar que antes da invasão russa a inflação acumulada em 12 meses já passava dos 7%!”
Os Estados Unidos possuem, agora, a maior inflação em 40 anos! Trata-se de uma marca assustadora, preocupante, que tem espalhado angústia pela nação. O presidente Joe Biden, porém, aponta para Putin na hora de encontrar um culpado. Em todos os seus discursos, Biden tem chamado de “inflação de Putin”. Na última fala, levou uma caca de um pássaro bem no ombro. Esse pássaro foi um símbolo do desejo americano.
De quem é a culpa da elevada inflação, afinal? A Casa Branca diz que 70% do aumento no índice no último mês se deu pela alta na energia e nos alimentos, o que “provaria” a culpa direta da guerra de Putin. Mas é isso mesmo? Então quer dizer que antes da invasão da Ucrânia as coisas estavam tranquilas no que diz respeito ao índice de inflação?
A resposta é não, e dois gráficos comprovam isso:
Esse primeiro gráfico mostra que a inflação medida pelo CPI, o índice de preços ao consumidor, começou a disparar justamente quando Biden assumiu o governo. Claro que correlação não é necessariamente causalidade, mas fica claro que é absurdo culpar apenas Putin pela escalada dos preços. A parcela atribuída ao tirano russo é ínfima, a ponta do iceberg.
Já este segundo gráfico compara a inflação americana com a europeia, lembrando que a Europa está bem mais perto da guerra e é muito mais dependente da energia russa, logo, deveria ser mais impactada. A inflação da Europa vinha mais baixa do que a americana há anos, também sofreu elevação recentemente, mas bem menor do que a americana. Como, então, culpar Putin pela alta dos preços nos Estados Unidos?
Fica evidente que Biden está mentindo, buscando um bode expiatório, nada mais. De quem, então, é a culpa da inflação galopante? O primeiro suspeito é o Federal Reserve, o banco central americano, com sua política monetária extremamente frouxa desde a crise de 2008. O Fed possui em seu balanço incríveis $9 trilhões em ativos, injetou muita liquidez nos mercados, manteve a taxa de juros em quase zero, totalmente “atrás da curva”, demorando a agir.
O segundo suspeito é o governo federal americano, mesmo levando em conta ambos os partidos. Trata-se de uma crise bipartidária, pois nenhum presidente ou congressista tem a coragem de ser totalmente franco com a população e afirmar a insustentabilidade das contas públicas. Os gastos federais eram da ordem de $3 trilhões antes da crise, e hoje dobraram para $6 trilhões, e Biden já fala em orçamento de $7 trilhões! A dívida pública já soma $30 trilhões, sem levar em conta os passivos descobertos dos “entitlements”, como a previdência. É uma trajetória explosiva.
Por fim, temos o terceiro suspeito, que é o próprio Biden. Ele pegou o que já era ruim e conseguiu piorar muito em pouco tempo. Seu plano econômico é desenvolvimentista, o governo mandou cheques para que ninguém precisasse trabalhar, os lockdowns defendidos pelos democratas impediram mais oferta de produtos e serviços, e era inevitável a resposta pela inflação. O editorial do WSJ, que afirma não se tratar de uma inflação de Putin, comenta:
O gráfico [abaixo] mostra que a tendência da inflação começou a sério há um ano, no início da presidência de Biden. Acelerou durante a maior parte dos últimos 12 meses. Isso foi muito antes de Putin decidir invadir. O momento reflete muito dinheiro perseguindo poucos bens, devido principalmente à combinação de grandes gastos federais e política monetária fácil.
O presidente Trump assinou um projeto desnecessário de ajuda de US$ 900 bilhões ao Covid em dezembro de 2020, e os democratas jogaram querosene na fogueira com outros US$ 1,9 trilhão em março de 2021. O Federal Reserve continua a apoiar taxas de juros reais negativas quase dois anos após o término da recessão pandêmica. Essa inflação foi feita em Washington, D.C.
Vale notar que antes da invasão russa a inflação acumulada em 12 meses já passava dos 7%! Portanto, não passa de ladainha democrata repetir que essa é a “inflação do Putin”. Ela não é apenas de Biden, mas certamente o atual presidente contribuiu bastante. Faz muito mais sentindo, então, falar na inflação de Biden.
PS: Por conta dos insanos lockdowns adotados quase no mundo ocidental todo, a inflação disparou em todos os países. A oposição tem usado isso para culpar Bolsonaro pela alta de preços no Brasil, ignorando não só a pandemia como a guerra, mas os preços subiram menos no Brasil do que nos Estados Unidos e na Europa, isso sem falar da nossa vizinha Argentina, sob governo lulista e tão elogiado pela oposição durante a pandemia, por “seguir a ciência”.
A inflação de março na Argentina foi de 6,7% e se igualou à marca mais alta dos últimos 20 anos. Quase 7%, no mês! Mas tem bobão achando que se Lula e sua quadrilha petista voltarem, a situação econômica brasileira vai melhorar!!! Seria cômico, não fosse tão trágico…
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.