Opinião – Os ajustes estruturantes que podem fazer a diferença

É importante reconhecer que o nosso equilíbrio fiscal há muito também é pressionado pelos chamados custos tributários, renúncias fiscais que beneficiam setores ou empresas específicas, escreve Carlos Rodolfo Schneider

23/04/2022 05:52

”O Brasil precisa desenvolver um grande esforço para tornar a economia mais competitiva e não subsidiar uns ou outros”

Imagem: Bigstock

As restrições impostas pela pandemia nos colocaram diante de um arsenal de dificuldades e desafios, em graus diversos para os diferentes atores. Por outro lado, foram criadas oportunidades – novamente, mais para uns que para outros – que até trouxeram resultados excepcionais e inesperados para quem melhor identificou e se estruturou na nova realidade. Aparentemente, oportunidades conjunturais.

Todavia, vem se delineando uma oportunidade estrutural, de reorganização das cadeias produtivas, em função dos transtornos provocados pela excessiva concentração da produção de muitos bens em poucos países. E o Brasil pode capturar o seu quinhão nesse novo desenho, desde que seja mais diligente numa antiga lição de casa, que são os ajustes estruturantes.

A recuperação da competitividade da economia em setores nos quais não temos vantagens comparativas internacionais naturais, mas que têm potencial elevado de contribuir para o aumento da produtividade, passa necessariamente pela redução do Custo Brasil. E isso requer reformas, microeconômicas e macroeconômicas, em complemento às já implementadas nos últimos seis ou sete anos. Outros países, que competem conosco no mercado internacional, têm sido mais determinados na implementação de reformas, comprometendo a nossa competitividade relativa.

Avançamos pouco no aumento da eficiência do Estado, o que o deixa obeso, caro e fraco. Precisamos de um poder público forte, a serviço da sociedade, e não de si próprio; em assim sendo, precisará de menos recursos para se manter (custo que hoje gira em torno de 20% do PIB), o que permitirá redução de carga tributária. Carga que, além de muito elevada (a maior entre os países em desenvolvimento), é mal distribuída, com concentração excessiva na indústria de transformação. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os impostos de 46,2% que incidem sobre o segmento têm contribuído muito para que ele encolhesse em média 1,6% ao ano na última década.

Entre as mudanças necessárias, importante também a reforma tributária, para simplificar a caótica estrutura de impostos no país, que custa caro às empresas e afasta investidores.

Importantes conquistas estruturantes foram as reformas da Previdência no atual governo e a trabalhista no governo anterior. Mesmo que não tenham abarcado toda a mudança de que o país precisa, representaram sem dúvida avanços a comemorar. E precisamos ter maturidade suficiente para evitar que o calor de uma campanha política não alimente ideias de retroceder nessas conquistas, fruto de ampla mobilização da sociedade, sob o risco de comprometermos ainda mais a nossa competitividade e acentuarmos o nosso vínculo com a armadilha da renda média. Que a reforma trabalhista deve ser dinâmica não há dúvida, mas para adequar a legislação a uma realidade que é mutante, e muito, e não para retrocessos com motivações ideológicas, respaldadas em parte por orientações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que infelizmente continua sensivelmente motivada por um viés político e ideológico.

Por fim, é importante reconhecer que o nosso equilíbrio fiscal há muito também é pressionado pelos chamados custos tributários, renúncias fiscais que beneficiam setores ou empresas específicas. O Brasil precisa desenvolver um grande esforço para tornar a economia mais competitiva e não subsidiar uns ou outros, mais próximos ao poder ou com maior capacidade de lobby.

 

 

 

 

Por Carlos Rodolfo Schneider é empresário, membro do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo e do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação da Confederação Nacional da Indústria.