Opinião – Eleitor tem direito de votar em quem quiser

Lula diz que vai resolver os problemas do Brasil abrindo mais estatais. Criar o Ministério do Índio e a moeda que acaba com o dólar. Vai eliminar a reforma trabalhista, anular a reforma previdenciária e ressuscitar o imposto sindical, escreve J.R. Guzzo

 

10/05/2022 10:06

”Lula diz que vai acabar com os clubes de tiro. Diz que policial, para ele, não é gente”

Corrida presidencial se desenha neste ano com uma polarização jamais vista em eleições anteriores.| Foto: reprodução

De todas as insânias que estão marcando a corrida presidencial de 2022, e que prometem dar à política brasileira os seus piores momentos desde a volta das eleições diretas em 1989, nenhuma parece se comparar, até agora, com a ofensiva para se negar a um dos lados o direito de ganhar. Este lado, é claro, é o do presidente da República – qualquer um, dizem a maior parte da mídia, as elites e as classes intelectuais, menos ele.

Não se discute, aí, os seus erros ou as suas qualidades. Não se discute as virtudes ou os defeitos do seu adversário. O que vai se impondo no debate é uma alegação estúpida: a que o eleitorado não tem o direito de votar em Jair Bolsonaro.

Essa postura sustenta, muito simplesmente, o seguinte disparate: os brasileiros que votarem no presidente da República estarão votando contra os “interesses do Brasil”. Aí já se começa a entrar no terreno do fanatismo, coisa de Talibã que proíbe as pessoas de ouvirem música porque isso é contra os interesses do Islã.

Porque, de uma forma objetiva, votar em Bolsonaro seria votar contra a nação? Qual a autoridade de quem está dizendo isso para decidir o que é, e o que não é, o “interesse nacional”? Quais são os fatos que sustentam essa afirmação? E, mais do que tudo: por que raios o cidadão não teria o direito de votar em quem quiser?

Nunca houve, nas campanhas anteriores, este tipo de proibição. Sobraram, nestes últimos 30 anos, as palavras mais incendiárias contra candidatos de todas as modalidades, mas negar a um deles o direito de receber votos é novidade de 2022.

Não há a mais remota preocupação de discutir as ideias, projetos ou valores de cada candidato, nem de buscar argumentos lógicos para nada do que se diz. Basta eliminar o nome vetado – e carimbar como má pessoa, mau patriota e mau brasileiro quem pretende votar nele.

Bolsonaro foi um mau presidente e é um mau candidato? Perfeito: basta apresentar fatos objetivos, e coerentes entre si, que demonstrem isso. Na verdade, se ele é o pesadelo que os jornalistas acham que é, não deveria haver o menor problema em fazer a lista de tais fatos, não é mesmo? Não adianta, aí, dizer que ele é “genocida”; é indispensável acusar com um mínimo de inteligência, nexo e respeito à realidade. E então?

Denuncia-se quem vota no presidente como gente “a favor do atraso”. E o outro candidato – o único de verdade, quando se deixa de lado a palhaçada da “terceira via”? O que há de moderno com ele e com as propostas que está fazendo neste exato momento?

O ex-presidente Lula diz que vai resolver os problemas do Brasil abrindo mais estatais. Vai criar o Ministério do Índio e a moeda que acaba com o dólar. Vai eliminar a reforma trabalhista, anular a reforma previdenciária e ressuscitar o imposto sindical. Vai acabar com os clubes de tiro. Diz que policial, para ele, não é gente.

Quer tirar do passado tudo o que já se experimentou e deu errado – e fazer disso a sua plataforma de governo. Por que votar contra isso tudo seria votar a favor do atraso – e contra os interesses nacionais?

Não faz nenhum sentido. Mas grande parte da mídia brasileira, com a mente cada vez mais desarrumada pela existência de Bolsonaro, deixou de fazer qualquer sentido na campanha para presidente.

 

 

 

 

Por J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.