Opinião – O caso de Deltan Dallagnol é a prova de que o país virou do avesso

Dallagnol foi escolhido pelo PT como o inimigo preferencial de Lula, da esquerda, do “progressismo” em geral (…) na época em que foi exposto à luz do dia o sistema de corrupção que comandavam, o maior da história do Brasil. Escreve J.R. Guzzo

29/06/2022 06:08

”Agora, estão atrás dele no STJ. É a hora da forra”

Ex-procurador da República Deltan Dallagnol. Foto: Albari Rosa

O Brasil, definitivamente, juntou-se a um dos piores clubes a que um país pode pertencer no mundo de hoje: aquele dos que, em pleno século XXI, tem presos e perseguidos políticos. O mais recente deles, para piorar as coisas, nem é um militante político que age em grupos de “direita”. É um funcionário do Estado que está sendo hostilizado por cumprir o seu dever funcional de acusar perante a justiça indivíduos que considera autores de infrações ao Código Penal Brasileiro. Trata-se do procurador Deltan Dallagnol, um dos principais membros da equipe de acusação na Operação Lava Jato – a maior, mais corajosa e mais eficaz operação de combate a corrupção jamais executada pelo sistema judiciário brasileiro em toda a sua história.

A situação, como se sabe, ficou de cabeça para baixo: por ação direta do Supremo Tribunal Federal e do alto aparelho de justiça que opera logo abaixo dele, os criminosos condenados pela Lava Jato foram transformados, por razões políticas que nada têm a ver com a ciência do Direito, em vítimas e heróis da sociedade. Os promotores e juízes que os condenaram, ao contrário, se viram jogados ao papel que deveria ser dos condenados – passaram a ser o bandido. Num primeiro momento, essa guerra santa em favor dos corruptos e da corrupção se preocupou em salvar a ladroagem. Assim que os autores dos crimes tiveram a sua liberdade garantida, passou-se à fase atual: a vingança contra os que combateram os ladrões.

O procurador Dallagnol é um caso extremo. Inventaram, contra ele, a acusação de que teria gastado verbas oficiais de maneira indevida, em viagens e conferências durante a Lava Jato. Ele foi inocentado de todas as acusações na primeira instância, na justiça do Paraná. Sua inocência foi confirmada na instancia imediatamente superior, o Tribunal Federal Regional de Porto Alegre. O próprio Ministério Público isentou Dallagnol de qualquer procedimento incorreto. Mas o Tribunal de Contas da União, que normalmente abençoa os escândalos mais espetaculares deste país – o “consórcio do Covidão”, por exemplo, para se ficar no caso mais agressivo – não larga o osso. Escolhido como o instrumento dos vitoriosos para “pegar” o procurador, o TCU recorreu de cada decisão, e agora está no STJ. Esse tribunal, que já foi capaz de confirmar por 5 a 0 a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, hoje funciona como uma área de serviço do Supremo, encarregada de cuidar das suas sobras.

Num primeiro momento, essa guerra santa em favor dos corruptos e da corrupção se preocupou em salvar a ladroagem. Assim que os autores dos crimes tiveram a sua liberdade garantida, passou-se à fase atual: a vingança contra os que combateram os ladrões

Dallagnol foi escolhido pelo PT como o inimigo preferencial de Lula, da esquerda, do “progressismo” em geral – é ele, depois do juiz Sérgio Moro, que tem de pagar pelos maus momentos que passaram na época em que foi exposto à luz do dia o sistema de corrupção que comandavam, o maior da história do Brasil. Lula lhe exige uma “indenização” – e o público, em poucas horas, doou ao procurador 750 mil reais para a sua defesa. Agora, estão atrás dele no STJ. É a hora da forra. Um dos peixes graúdos do PT, o mesmo que queria o fechamento do STF na época em que Lula foi preso e hoje é amigo de infância dos ministros, diz que os combatentes contra a corrupção devem preparar “o bolso” e “os punhos” para receberem o castigo que a esquerda vai lhes aplicar. É o mundo virado do avesso.

 

 

 

 

Por J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame