Opinião – Na Band, Lula se encolhe e Bolsonaro se impõe (até demais)

Se na Globo, Lula cresce e Bolsonaro se encolhe, na Band testemunhamos exatamente o contrário. Estratégias deverão ser repensadas no QG petista. Continuemos acompanhando. Escreve Paulo Victor Fanaia Teixeira

30/08/2022 05:31

”Primeiro debate presidencial em TV aberta revela desafios para equipe do ex-presidente”

Reprodução.

O primeiro debate eleitoral entre os presidenciáveis, realizado na noite deste domingo (28), trouxe à tona os desafios das equipes de marketing dos principais candidatos, na corrida até o dia 02 de outubro. Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), diante de um Bolsonaro estratégico e agressivo (até demais), (PL) o desafio talvez seja um pouco maior.

Lula apresentou um desempenho bastante aquém do esperado, sobretudo após o excelente trabalho na entrevista ao Jornal Nacional, na última quinta-feira (25). O calcanhar do petista sempre foi evidente: corrupção, principalmente na Petrobras. Nesse sentido, a estratégia de Bolsonaro foi bastante óbvia em invocar os temas, já de início, direcionando sua pergunta ao seu principal oponente.

O ex-presidente foi orientado por sua equipe a evitar atacar Bolsonaro e se ater demais ao tema corrupção. A ideia talvez fosse polir o debate, demonstrar por contraste certo controle e calma (como bem fez William Bonner na sabatina com o presidente na última segunda-feira, 22).

Lula não citou nenhum dos pontos fracos do presidente, e que não são poucos, à saber: as rachadinhas, as investigações contra os filhos de Bolsonaro, a aquisição de imóveis em Brasília, o orçamento secreto e tudo o que paira de suspeita (sejam elas verdadeiras ou não) sobre as milícias do Rio de Janeiro. Nada foi explorado. O tiro saiu pela culatra.

Lula poliu a imagem de Bolsonaro e permitiu-se ser atacado em todos os aspectos, até mesmo pessoais. Invocou, em ineficaz defesa, seus feitos durante seus oito anos de mandato. Não funcionou.

Se a ideia era evitar subir o tom, isso revela uma inocência tremenda da equipe de Lula. Era claro que Bolsonaro partiria para o ataque, e sem limites, se possível. O petista ainda tentou terceirizar a crítica ao atual presidente, invocando questões sobre o atual governo com outros concorrentes, como Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), numa estratégia igualmente inocente. Os demais candidatos, sobretudo Gomes, não se furtaram de compartilhar acusações também à Lula, o que já era, ou deveria ser, esperado.

Lula e sua equipe de marketing precisam urgentemente repensar o modo de lidar com os próximos debates. Seu desempenho na Bandeirantes foi ruim e isso ficou bastante claro. A mensagem aos indecisos foi a pior possível. Covardia, nostalgia (por sua gestão) e incapacidade de defender sua honra.

Neste primeiro debate, a vitória de Bolsonaro e sua equipe, apesar de uma atitude grave e bastante equivocada, a de atacar a jornalista Vera Magalhães, tratando-a como “a vergonha do jornalismo brasileiro”. A jornalista debateu a atitude misógina e defendeu sua honra (melhor do que fez Lula), alegando que o presidente teme ser questionado por mulheres.

Não é possível dizer que o ocorrido tenha impactos negativos à imagem do presidente (considerando que sua postura em relação à elas não seja, lamentavelmente, novidade).

Tirando este fato lamentável, Bolsonaro defendeu seu governo com argumentos simples, tiradas rápidas e desarmes argumentativos (apesar de lidar muito mal com o tema da fome, negando-a por completo). Em suma: impôs seus termos ao debate, definiu o tabuleiro e colocou as peças. Lula, equivocadamente, aceitou jogar com elas.

Bem assessorado, a frase “sem demagogia e com responsabilidade fiscal” encaixou-se bem ao lema de sua campanha à reeleição. Ao que tudo indica, deverá manter-se assim, o que o encoraja a participar do debate eleitoral da Rede Globo, às vésperas da votação – certamente o mais importante dos embates.

Se na Globo, Lula cresce e Bolsonaro se encolhe, na Band testemunhamos exatamente o contrário. Estratégias deverão ser repensadas no QG petista. Continuemos acompanhando.

 

 

 

 

 

Por Paulo Victor Fanaia Teixeira é jornalista e mestre em sociologia.