Opinião – Só o otimismo não bastará para a economia em 2023

Não só a estabilidade de preços, mas também a manutenção do emprego e o aumento da renda, ainda que não estejam no centro do debate agora, terão de ser enfrentados. Escreve Walcir Soares Junior

17/10/2022 16:00

”Só otimismo não será suficiente para nos colocar de volta em uma rota de crescimento”

Imagem ilustrativa. Foto: MARCELO ANDRADE

A inflação pode ser definida como o aumento generalizado de preços na economia. Dos muitos traumas que este país enfrenta, essa é uma das mazelas que mais assombra os brasileiros, seja por nossa história recente de hiperinflação, seja pelo terror de uma maioria pobre ver os rendimentos do seu trabalho corroídos e comprando cada vez menos. A inflação é daqueles muitos problemas brasileiros que pioram quando combinados com a desigualdade: a classe mais baixa não só é a menos preparada para a alta inflação como também a parcela da sociedade que mais sofre com ela.

Dados de setembro do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) mostraram um recuo da taxa de inflação no Brasil, mais conhecido como o fenômeno da deflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma queda de 0,29%, a terceira queda mensal consecutiva. No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira já figura na casa dos 7,1%, em queda, principalmente, por conta da redução nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, além do efeito das entressafras de alguns alimentos.

O presente cenário de deflação coloca em questão se finalmente a inflação dará uma trégua aos brasileiros e é neste ponto que as análises precisam ser cautelosas. Primeiro, porque parte desse cenário pode ser considerado artificial, dados os incentivos de ano eleitoral como a desoneração de alguns setores como combustíveis e energia elétrica. Conforme apresentado no Relatório Focus de 7 de outubro de 2022, o mercado já espera para 2022 uma inflação de 5,7%, reduzindo a expectativa para o ano de 2023 para 5% e 3,4% em 2024. Essa expectativa corrobora a última decisão do Banco Central em encerrar o ciclo de alta das taxas de juros, com expectativa de redução para o próximo ano.

Otimismos exacerbados à parte, resta saber quanto dessa redução de preços é orgânica e condizente com a retomada econômica e quanto poderá ser neutralizada com os desdobramentos geopolíticos e a incerteza no cenário nacional e internacional. Anos eleitorais distorcem índices, cenários e percepções e, portanto, fica difícil qualquer análise baseada em expectativas. A combinação da política monetária brasileira junto às desonerações e efeitos externos dos preços dos combustíveis resultaram em uma deflação que dificilmente se sustentará por muito tempo. Aliás, nossa preocupação não deve ser se a deflação irá continuar, mas se conseguiremos manter a estabilidade dos preços.

Qualquer que seja o resultado das eleições, lidar com as más decisões orçamentárias deste ano será um grande desafio que não virá com respostas fáceis. Não só a estabilidade de preços, mas também a manutenção do emprego e o aumento da renda, ainda que não estejam no centro do debate agora, terão de ser enfrentados. Uma das lições básicas dos livros de economia é que uma certa dose de otimismo faz bem, já que a expectativa de crise pode ser capaz de gerar uma crise. Mas, como o Brasil já sabe, só otimismo não será suficiente para nos colocar de volta em uma rota de crescimento.

 

 

 

 

 

Por Walcir Soares Junior (Dabliu), doutor em Desenvolvimento, é professor do curso de Ciências Econômicas na Business School da Universidade Positivo.

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