Dividir o Mapa em governanças separadas para um só fim fragiliza, entre outros aspectos, a capacidade do país de fornecer alimentos e energias mais baratas e sustentáveis. Escreve Joacyr Costa Filho
03/01/2023 07:15
“A prática vigente e a realidade em países de porte comparável ao do Brasil mostra que só há um setor agropecuário”
Nas últimas semanas, uma ideia apresentada pelo grupo de transição do governo eleito vem causando apreensão no setor agropecuário brasileiro. Trata-se do desmembramento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de atividades relacionadas com a agricultura familiar. Para tanto sugerem a criação de um ministério específico, medida que além de onerosa irá gerar ineficiências em um setor que representa mais de 25% do PIB brasileiro.
Ao contrário do que defendem os proponentes, fatiar o Mapa em dois ou três – com a inclusão, no pacote, de mais um novo ministério, o da Pesca –, seria extremamente prejudicial para o futuro da agricultura familiar, atividade que engloba 77% das propriedades rurais do país de acordo com o último censo agropecuário do IBGE. Significaria quebrar elos importantes que unem as diversas cadeias produtivas no agro, e que viabilizam a integração entre os pequenos produtores e a cadeia produtiva.
A integração existente gera um desenvolvimento mais sustentável e cada vez menos dependente de ajuda governamental, principalmente no que se refere a ganhos de produtividade e acesso às tecnologias de ponta. Vale ressaltar a grande relevância na agregação de valor para os pequenos agricultores de cooperativas agrícolas como Cocamar, Aurora, Coamo, C. Vale e Comigo, conquistada em grande medida em função dessa integração.
Na prática, a simbiose entre a agricultura familiar e a cadeia produtiva do agronegócio favorece a produção agroindustrial eficiente no Brasil. Para exemplificar, a avicultura e a suinocultura são mais competitivas, interna e externamente, em função do baixo preço dos insumos. O milho e a soja, utilizados na alimentação de porcos e frangos, são extremamente acessíveis no Brasil graças à competitividade do agroexportador, que gera divisas e impulsiona igualmente a prosperidade dos pequenos criadores de aves e suínos.
Hoje, o Ministério da Agricultura é interligado com vários ministérios, como o do Meio Ambiente, para questões de sustentabilidade; Infraestrutura, para buscar soluções de logística; Relações Exteriores para abrir mercados e defender interesses comerciais; Minas e Energia para fertilizantes e biocombustíveis; e Economia. Uma eventual divisão põe a perder esse entrosamento, atingido ao longo de anos e de importância fundamental.
A prática vigente e a realidade em países de porte comparável ao do Brasil mostra que só há um setor agropecuário. Dividir o Mapa em governanças separadas para um só fim fragiliza, entre outros aspectos, a capacidade do país de fornecer alimentos e energias mais baratas e sustentáveis. Seria prejudicial ao Brasil, que precisa estar cada vez mais unido no sentido de gerar riqueza e bem-estar social.
A agricultura brasileira é uma só.
Por Jacyr Costa Filho é presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da Consultoria Agroadvice.