Opinião – Legitimidade institucional e pacificação do Brasil

Se a única forma de “pacificar” o Brasil for calar, perseguir ou prender todo aquele que não engole a vitória de Lula da forma como se deu, então teremos a “paz” de uma China. Escreve Rodrigo Constantino

11/01/2023 12:32

“Não dá para chamar de democracia um resultado desses. Para “salvar nossa democracia”, vão acabar por destruí-la de vez…”

Imagem ilustrativa. Reprodução/divulgação.

Ben Shapiro, o comentarista conservador americano, usou o caso brasileiro para uma reflexão mais genérica sobre o enfraquecimento da legitimidade institucional no Ocidente. Ele não alivia a barra de quem vandalizou Brasília – e nem deveria, mas coloca tudo dentro de um contexto mais amplo: as elites querem mais controle por meio do governo, e o povo percebe um distanciamento cada vez maior entre representantes e representados.

A grande mídia em nada ajuda. Tomada pela ideologia esquerdista, os jornalistas demonizam a direita, sempre rotulada como “extrema direita”, e adota um duplo padrão escancarado. Basta ver como trataram diferente quando black blocs vandalizaram Brasília há alguns anos. A violência “progressista” é justa e redentora, enquanto a da “extrema direita” é golpista e terrorista.

O esgarçamento do tecido social em nada ajuda. Nossos “pequenos pelotões” de que falava Burke estão enfraquecidos, a religião perdeu força, as comunidades estão num clima tribal de “nós contra eles”. O estado é um aparato gigantesco que cada tribo disputa para poder impor suas vontades e ideologias aos demais, perdedores. Quanto maior o avanço estatal, com seus tentáculos pegajosos e autoritários, menor é o espaço para a sociedade civil.

Tenho lido e escrito bastante sobre essa crise de legitimidade nas democracias “liberais” do Ocidente. Na era da Guerra Fria havia um inimigo mais específico, com seu modelo de planejamento central, sua visão totalitária e coletivista sem qualquer espaço para o indivíduo, e havia um denominador comum que unia de certa forma a esquerda e a direita mais moderadas. Hoje o ambiente é de polarização absoluta.

É difícil imaginar como isso possa terminar bem. O caso brasileiro conta com agravantes, como o malabarismo do sistema para soltar e tornar Lula elegível, a parcialidade do TSE durante a campanha eleitoral, a falta de transparência do processo como um todo. Lula carece de legitimidade perante basicamente metade da população. E a velha imprensa, ao demonizar todo patriota indignado e colocar a pecha de “terrorista” na maioria sem um critério mais objetivo, joga lenha na fogueira.

Mais de mil pessoas, entre elas idosos e crianças, trancadas num galpão. Alexandre de Moraes diz que não é uma “colônia de férias” e que o Judiciário será implacável com os “terroristas”. Mas um juiz não deveria condenar cada um antes de provas. No mais, podemos questionar: e se fossem mil pessoas, crianças incluídas, presas numa favela carioca após uma operação policial? Sabemos qual seria a reação das ONGs dos direitos humanos e da imprensa em geral.

O Brasil precisa de paz, e as instituições precisam ser fortalecidas. Isso certamente não vai acontecer por meio do vandalismo de quem se diz patriota. Tampouco será possível por meio de uma perseguição implacável a todos que enxergam legitimidade não nesses atos inaceitáveis, mas na demanda em si por maior respeito à Constituição e às liberdades individuais, especialmente de exprimir nossa opinião sobre a falta de legitimidade do presidente eleito.

Tenho dito isso e repito: se a única forma de “pacificar” o Brasil for calar, perseguir ou prender todo aquele que não engole a vitória de Lula da forma como se deu, então teremos a “paz” de uma China. Não dá para chamar de democracia um resultado desses. Para “salvar nossa democracia”, vão acabar por destruí-la de vez…

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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