Passado aquele período de graça que se dá a um presidente chegando ao poder, se as coisas não andarem e ele continuar as falas nesse tom e nessa esquisita narrativa, as bordoadas virão. Escreve Alfredo da Mota Menezes
02/02/2023 05:30
“Lula tem dito coisas que tem levado desconforto para parte da opinião pública”
Lula na presidência tem dito coisas, em poucas semanas de governo, que tem levado desconforto para parte da opinião pública.
Lula atacou a estabilidade fiscal ao dizer “por que as pessoas são levadas a sofrer por conta da tal estabilidade fiscal”. Ou esta “por que é preciso fazer teto de gasto” que, diz, é uma “estupidez”.
Âncoras da estabilidade econômica sendo atacadas pelo presidente, levando intranquilidade ao país, não somente ao tal do mercado. O presidente não quer estabilidade fiscal? Qual seria essa nova politica econômica?
Ele defende que se pode fazer o que quiser na economia para atingir metas sociais, mesmo quebrando regras importantes do momento econômico nacional. É um posicionamento arriscado. Sem política fiscal adequada o problema econômico vai aparecer e atingir quem ele quer defender: os mais pobres.
Ele continuou a atacar a questão do gasto, usando frases como se estivesse em campanha, sentencia que o que não seria gasto “é o dinheiro que a gente paga de juros para o sistema financeiro”.
Os que apoiam o presidente, mesmo sem analisar o alcance de frases como esta, batem palma às falas nessa direção. Outros sabem que o caminho não é este, que responsabilidade fiscal é importante e se preocupam com essas atitudes estranhas do presidente.
Ele diz que vai mudar narrativa nacional: que tudo que gastar daqui para frente não seria gasto e sim investimento. Mais aplausos dos que o apoiam.
Ele atirou também na independência do Banco Central ao dizer que é “uma bobagem que o presidente do Banco Central vai fazer mais do que quando o presidente era quem indicava”.
Continua a se mostrar contra a independência do BC ao falar “por que com o Banco Central independente a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está”.
Em outros lugares do mundo, mesmo com Banco Central independente, inflação pode ocorrer em certas circunstâncias e momentos. Para Lula o Brasil não precisaria de Banco Central independente.
Mais frases do presidente: “o empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou. Ganha muito dinheiro porque os trabalhadores fazem o trabalho dele”. Por que se indispor, logo no inicio do seu governo, com parte do empresariado?
Tem falas também raivosas ou vingativas. Na viagem à Argentina, num discurso, chamou Michel Temer de golpista. Temer é liderança no MDB, partido que tem três ministros no governo e apoia Lula no Congresso. Sem esse apoio teria dificuldades para governar. O impeachment de Dilma teve enorme apoio de inúmeros parlamentares que apoiam hoje o governo.
São frases e atitudes como se estivesse em campanha eleitoral, que precisaria conquistar eleitores. Aqueles que o aplaude já são dele, o que ele deveria fazer é trabalhar para ganhar politicamente o centro politico para ter apoio ampliado ao seu governo. Como está atuando, acaba amedrontando aquele setor politico.
Passado aquele período de graça que se dá a um presidente chegando ao poder, se as coisas não andarem e ele continuar as falas nesse tom e nessa esquisita narrativa, as bordoadas virão.
Por Alfredo da Mota Menezes é analista político.