Opinião – Lula e o BC

Na volta da viagem à China, quando anunciar o novo arcabouço fiscal, saberemos se o Lula vai conseguir se desvencilhar um pouco da tutela da Gleisi Hoffmann e do PT. Escreve Renato de Paiva Pereira.

27/03/2023 06:21

“Estão faltando discernimento e lucidez para o presidente da República”

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O Lula anda muito esquisito. Não sei se por conta da idade ou pelo trauma da prisão, vem perdendo o controle da fala, criando situações embaraçosas. Na semana passada, incorporando linguajar de penitenciária, disse que só se sentirá bem quando f* o Sergio Moro. Se não bastasse esta grosseria ainda atribuiu a “armação” do seu desafeto o plano do PCC de raptar e assassinar autoridades e políticos.

Parece que ele (o Lula) tem o Bolsonaro como ídolo, pois está copiando deste a balda de acusar sem provas e a mania de atacar as instituições como arma política: o antecessor criticava o STF e o Lula desanca o BC.

Também tem lhe faltado discernimento: gasta energia em atacar o Banco Central sem se dar conta de que a indelicadeza com o presidente Campos Neto pode ter efeito contrário ao desejado e como o comandante do BC tem mandato fixo é inútil tentar tirá-lo de lá.

A contrariedade do Lula é o valor da taxa Selic que está hoje em 13,75% a.a. Esse desconforto é aceitável porque ela (a Selic) baliza todos os financiamentos e empréstimos e por isso tem o poder de limitar ou anular o crescimento da economia. Mas o Banco Central não é o único culpado por esse exagerado valor, ele apenas monitora a doença (inflação) e tenta aplicar o remédio para evitar que ela corrompa a moeda, cuja defesa é sua principal função.

Há a possibilidade de o Banco Central estar exagerando na dose ou estendendo o tratamento para além do tempo necessário? Sim, existe esse risco. De repente o remédio pode estar certo mas a dose errada; ou, o remédio e a dose corretos, mas o tempo do tratamento excessivo.

Entretanto uma coisa é certa, os técnicos que decidem os valores da Selic o fazem mediante análise de muitas variáveis que são descritas na ata que acompanha cada reunião. O Presidente poderia contestar esses valores contrapondo dados técnicos elaborados pelos ministros ligados à área, nunca com grosserias e vulgaridades como se os funcionários do BC fossem inimigos do progresso e sentissem prazer em empurrar o País pra baixo.

Não obstante, nem só de asneiras vive o governo Lula. Louve-se a viagem à China que tem um grande potencial de incrementar as trocas entre os dois países e que, a julgar pelo tamanho da comitiva, está merecendo do governo a necessária atenção. Antes mesmo do Presidente chegar lá, o gigante asiático já desembargou a exportação de carne bovina brasileira que foi imposta por conta de um caso isolado e já superado de “mal da vaca louca” no estado do Pará.

Uma boa surpresa também é o Ministro da Fazenda com sua serenidade. Ele já preparou a substituição do antigo “teto de gastos” pelo novo “arcabouço fiscal”. Embora não saibamos ainda seu conteúdo, dá pra desconfiar que esteja no caminho certo porque vem recebendo muitas críticas da esquerda que participa do governo.

Na volta da viagem à China, quando anunciar o novo arcabouço fiscal, saberemos se o Lula vai conseguir se desvencilhar um pouco da tutela da Gleisi Hoffmann e do PT.

 

 

 

 

Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor

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