Opinião – O desenvolvimento da economia passa pela indústria de construção civil

Estamos em 2023 e a reta final de 2022 exigiu uma atenção especial ao prazo apertado que incorporadoras e bancos têm para se ajustar às novas diretrizes do Conselho Monetário Nacional. Escreve Guilherme Quandt

21/04/2023 06:46

“A integração da cadeia de ponta a ponta será um marco fundamental para a eficiência operacional tão necessária neste momento”

Imagem ilustrativa. Reprodução/divulgação.

Falar sobre planejamento e tendências para a indústria da construção, em um ano onde os cenários econômico e político se apresentam instáveis, tem sido uma tarefa desafiadora. Ainda assim, de longe sabemos que é um segmento que vem atuando de forma cada vez mais diversificada e robusta, mesmo com os reflexos da crise americana, que causou um efeito dominó em escala global, e com as incertezas herdadas da pandemia.

Se formos analisar os números que representam a movimentação do segmento, de acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), podemos ver um momento de retração no mercado imobiliário brasileiro, mas com um movimento bastante otimista de aceleração.

Na comparação entre os primeiros semestres de 2021 e 2022, houve queda de 6% nos lançamentos de unidades imobiliárias de um ano a outro. Porém, um segundo viés aponta uma retomada otimista na capacidade produtiva da indústria da construção. Do primeiro para o segundo trimestre de 2022, o número de lançamentos cresceu 4,4%. Foi um salto expressivo no curtíssimo prazo.

A estabilização do preço dos insumos e do Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) foi um motor importante para essa aceleração. A capacidade de compra do cidadão brasileiro, no entanto, não se comportou no mesmo ritmo. O primeiro semestre de 2022 teve aumento de 1,4% nas vendas em relação a 2021, um movimento bastante tímido, principalmente se observado somente sob o recorte de 2022. Foram 7,5% menos vendas entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano.

Fica clara a reação na capacidade produtiva do setor em 2022, mas a queda nas vendas resultou no aumento do “estoque”. O primeiro semestre deste ano fechou com mais de 245 mil unidades residenciais disponíveis em todo o Brasil, quantidade 3,2% maior do que o mesmo período do ano passado. Isso reflete as instabilidades econômicas para o cidadão, impactado pelo aumento da inflação e pela desvalorização do real frente a moedas estrangeiras.

Paralelamente, construiu-se em 2022 um novo escopo econômico, com novos incentivos, e já se nota uma retomada positiva no curto e médio prazo. O primeiro semestre teve a segunda melhor marca histórica de captação de crédito. Ou seja, o momento atual tem crédito para investimento e imóveis disponíveis. Ao mesmo tempo, o período eleitoral reafirmou o compromisso com pautas definitivas, como os programas de habitação social, iniciativas que até podem passar por atualizações, mas devem ser mantidas.

Durante o Construsummit, realizado em setembro, o presidente da CBIC, José Carlos Martins, destacou uma previsão otimista para o fechamento de 2022: 3,5% do PIB setorial. Este número foi atualizado recentemente para 6%, um resultado muito positivo que impulsiona também a geração de empregos em toda a cadeia produtiva. Essa visão reforça que, cada vez mais, a indústria da construção é uma grande âncora que permite um crescimento sustentável no Brasil.

É importante destacar que as pautas regulatórias tiveram um papel fundamental para que o setor da construção mantivesse uma boa margem de estabilidade. Um mercado nichado regulamentado sofre menos diante de incertezas, pois opera com mais robustez e segurança jurídica para todas as pontas. É o que temos visto no setor da construção, que vem evoluindo muito na estruturação de camadas de compliance e governança. O fato de termos passado pela crise da Covid-19 com muito mais segurança em relação a crises anteriores exemplifica o fortalecimento do mercado da indústria da construção.

Estamos em 2023 e a reta final de 2022 exigiu uma atenção especial ao prazo apertado que incorporadoras e bancos têm para se ajustar às novas diretrizes da Resolução 4.909, do Conselho Monetário Nacional, que estabelece condições gerais para a contratação de financiamento de imóveis. Esse e outros desafios são importantes para o desenvolvimento do setor, exigem cautela, mas há otimismo para um bom nível de aceleração. A integração da cadeia de ponta a ponta será um marco fundamental para a eficiência operacional tão necessária neste momento. E a tecnologia é nossa principal aliada para garantir previsibilidade, assertividade e crescimento exponencial.

 

 

 

 

Por Guilherme Quandt é diretor de Marketing e Estratégia do Sienge.