Se invadir os edifícios dos Três Poderes é crime, terrorismo e golpe de Estado, por que invadir e destruir instalações da Embrapa é permitido? Por que a lei brasileira não se aplica a eles? Questiona J. R. Guzzo.
26/04/2023 08:03
“O MST está invadindo de novo propriedades rurais e órgãos do governo, com estímulo ou omissão da autoridade pública.”
O MST, esse santo sacrário de Lula, da esquerda nacional e de quem acredita que o Brasil, a esta altura do século XXI, ainda precisa de uma “reforma agrária”, nunca quis distribuir terra para ninguém. Desde o começo das suas operações, ficou claro que é uma sociedade comercial com sócios-proprietários, acionistas e funcionários de carreira, com o objetivo de explorar o mercado mundial da piedade com o “camponês” explorado pelos “ricos” e sempre pronto a dar dinheiro para um “mundo mais justo”. Mais: cria e aproveita oportunidades para assaltar o Tesouro Nacional, em parceria com políticos que também estão pouco ligando para a “situação social” no campo; o que querem é verba, voto e cartaz.
O resultado prático disso é que o MST e seus derivados têm um único interesse real, estratégico e político: manter vivo, e sem solução, o “problema da terra”. É dele que vivem. Estarão mortos o dia em que todos os brasileiros do mundo rural tiverem seu próprio pedaço de chão. Por isso ficaram tão ferozmente contra a distribuição, no governo passado, de mais de 300.000 títulos de propriedade a brasileiros que querem trabalhar na terra.
Essa trapaça, que dura há décadas, acaba de receber uma espécie de selo de aprovação do governo Lula, com ata de reunião, documento oficial e número de protocolo. Atesta-se aí pública e abertamente, pela primeira vez, que o MST não quer terra nenhuma, e sim dinheiro vivo. O dinheiro, naturalmente, é o seu, tirado diretamente dos impostos.
Não se de trata de uma “reivindicação política” de ordem geral. O que houve de fato, numa reunião oficial do MST com o ministro da Fazenda, foi a exigência de um pagamento específico e determinado de 1 bilhão de reais, a ser depositado nas contas bancárias da organização. Isso mesmo: 1 bilhão de reais, uma em cima da outra. Foi apresentada, é claro, a desculpa de que esse dinheiro se destinaria à “aquisição de terras” para os “camponeses”, mas quem conseguiria acreditar numa história dessas? Se querem mesmo terra, por que não pedem terra? O governo está cheio de terra – é, aliás, o maior proprietário de terras do Brasil, disparado. Nada disso: o que eles querem é 1 bilhão de reais. É uma extorsão. O MST está invadindo de novo propriedades rurais e órgãos do governo, com estímulo ou omissão da autoridade pública; diz que vai invadir mais, se não receber dinheiro.
O MST sabe perfeitamente que está acima da lei. O STF processa de modo enfurecido, sistemático e ilegal tudo o que considera “antidemocrático”, ou “terrorista”, ou contra o “patrimônio do Estado brasileiro”. Mas o MST invade e destrói propriedades da Embrapa, a grande turbina do avanço da economia rural no Brasil, e não acontece absolutamente nada aos seus donos. É o contrário. Eles fizeram parte da comitiva oficial de Lula à China. Continuam ganhando postos-chave no comando do Incra e de outros órgãos oficiais ligados à terra.
Por decisão do STF, os proprietários rurais não podem pedir à polícia ou à justiça que os defendam quando suas fazendas são invadidas: têm de “negociar” com os invasores, como um cidadão que precisasse negociar com os assaltantes quando invadem a sua casa para roubar. As instalações da Embrapa, para ficar só nessa parte do problema, são patrimônio do Estado brasileiro, como o Palácio do Planalto e os edifícios do Congresso e do STF.
Se invadir os edifícios dos Três Poderes é crime, terrorismo e golpe de Estado, por que invadir e destruir instalações da Embrapa é permitido? Por que os autores destes crimes viajam ao lado do presidente da República, despacham com o seu ministro da Fazenda (que põe boné do MST na cabeça) e pedem abertamente dinheiro público ao governo? Por que a lei brasileira não se aplica a eles?
Por J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.