Os invasores, os que incentivaram essa conjuração e os que financiaram a tentativa de expulsar a democracia do Brasil estão sendo alcançados pela lei. Não há a necessidade de interferência dos políticos. Escreve Renato de Paiva Pereira.
04/05/2023 05:39
“Os circos praticamente sumiram do mapa, um ou outro teima em sobreviver”
Os leitores mais velhos hão de lembrar dos antigos circos itinerantes que visitavam as cidades de todos os portes no País. Um detalhe era comum a eles: a apresentação entusiasmada e grandiloquente feita por um locutor de voz potente e música arrebatadora que antecedia cada espetáculo.
Com pequenas variações anunciava: “respeitável público, vocês vão assistir a partir de agora o maior espetáculo da terra”.
Os circos praticamente sumiram do mapa, um ou outro teima em sobreviver à mudança de hábitos da sociedade. Entretanto nossos políticos sempre tão diligentes, para suprir essa falta criaram as famosas CPIs que são os picadeiros onde eles atuam.
A primeira deste ano de 2023 (outras estão previstas) vai ser instalada no Congresso Nacional em poucos dias. O “respeitável público” está sendo convidado a oferecer sua audiência para testemunhar “o maior espetáculo circense dos tempos modernos”.
Só falta a lona. Os atores, divididos em dois grupos antagônicos, se lançarão em sangrentas batalhas em torno do tema combinado. Dado o mote – este agora é a invasão dos prédios públicos – cada bloco se empenhará em culpar os adversários ao mesmo tempo que usarão todos os argumentos para inocentar seus parceiros de qualquer responsabilidade naquele lamentável episódio de 08/01.
O parlamento dispõem de atores de baixa civilidade e reconhecida arrogância já experimentados em outras CPIs, por exemplo Renan Calheiros, Omar Aziz e o performático Eduardo Girão. Como estreantes aparecem os irmãos Bolsonaro (Flávio e Eduardo) que se perdem para os outros em experiência ganham em agressividade.
De todas as “virtudes morais” dos políticos a que mais vai se sobressair nestes dias ou meses de debates será, com certeza, a leviandade. Falarão mentiras absurdas com a cara mais lavada e protegidos pelo mandato acusarão os adversários. Os convidados (ou intimados) a depor, sofrerão humilhações como aconteceu na CPI da Covid, de triste memória.
Esses “representantes do povo”, que exigem ser tratados de excelências, não hesitam em chamar de mentirosas as vítimas indefesas que ali estão como depoentes. Indefesas sim, porque os valentes Senadores e Deputados, tomados de brios, podem prendê-los caso se sintam ofendidos, como já aconteceu com o ex-prefeito de São Paulo Celso Pita, na CPI do Banestado.
O objetivo perseguido por cada um é a lacração nas redes sociais e a exposição gratuita na mídia tradicional. Enquanto isso o parlamento, obcecado pela visibilidade que a CPI oferece, abandonará temporariamente os temas mais importantes, quais sejam a Reforma Tributária e o Arcabouço Fiscal que precisam ser votados, mesmo que seja para rejeitar. Pode até interferir na aprovação do PL das Fake News que prevê punir aqueles que vivem espalhando mentiras na internet.
As invasões dos prédios públicos – motivo desta CPI – já estão sendo tratadas pela justiça com base em abundante material colhido pelas câmeras do Congresso, STF e Palácio do Planalto ou por vídeos gravados pelos próprios baderneiros.
Os invasores, os que incentivaram essa conjuração e os que financiaram a tentativa de expulsar a democracia do Brasil estão sendo alcançados pela lei. Não há a necessidade de interferência dos políticos.
Os parlamentares prestariam um grande favor à Nação se desmontassem o circo, mesmo antes do primeiro espetáculo.
Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.