Opinião – O germe do fascismo

O império das leis é o oposto do fascismo, que é puro arbítrio e abuso do poder. Todos são livres para achar que é Gilmar Mendes quem melhor luta pelo primeiro contra o segundo, claro, mas boa sorte na hora de apresentar os argumentos. Escreve Rodrigo Constantino.

10/05/2023 06:25

“Dar carteirada de ministro supremo não é argumento – a menos que seja para provar justamente o contrário”

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou a atuação da força-tarefa da Operação Lava Jato e disse que a instituição da chamada “delação premiada” foi uma criação errada do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) com um texto “sem parâmetros”, que teria sido escrito pelo então juiz federal Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, hoje deputado federal pelo Podemos-PR (veja na íntegra).

As declarações de Mendes foram dadas durante a participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda (8). Na mesma entrevista, o magistrado fez outras críticas à Lava Jato e disse que “Curitiba tem o germe do fascismo”, em referência à base das investigações da operação.

Em resposta às declarações do ministro, o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) disse que Mendes “nunca respeitou a liturgia do cargo, vedações da lei da magistratura, regras de suspeição, distanciamento dos réus nem compreendeu o papel do combate à corrupção para a preservação da democracia”.

Dallagnol ainda afirmou: “Enquanto procura falhas na Lava Jato, o ministro tenta coar agulhas, mas engole camelos, votando sistematicamente em favor da absolvição e anulação de sentenças de corruptos, contra os votos técnicos de ministros como Edson Fachin”, disse. Há controvérsias quanto a esses votos técnicos de Fachin, o responsável pelo malabarismo final na soltura de Lula.

Dallagnol também disse que o ministro Gilmar Mendes “destila um ódio que mostra o que há em seu coração”, com uma mensagem “perversa e avessa ao que é justo, moral e ético”, com palavras que provocam uma “inversão de valores que injuriam os brasileiros”.

Gilmar Mendes, o rei das viagens no STF, chegando a gastar R$ 12,7 mil num voo e R$ 10 mil em outro, não tem papas na língua. Ele já se referiu aos responsáveis pela operação Lava Jato como quadrilha, numa inversão e tanto da realidade. Gilmar também é o rei da concessão de habeas corpus, inclusive para quem foi padrinho de casamento, sem constrangimento ou suspeição.

Banalizar o termo fascismo é sempre um perigo – e a estratégia predileta de quem gosta de abusar do poder e erguer cortina de fumaça. Eis o que pode ser considerado o germe do fascismo de fato: concentração de poder nas mãos de uma casta de “ungidos”; uma grande imprensa corrompida; inquéritos ilegais e arbitrários de quem deveria ser o guardião da Constituição; etc.

O império das leis é o oposto do fascismo, que é puro arbítrio e abuso do poder. Todos são livres para achar que é Gilmar Mendes quem melhor luta pelo primeiro contra o segundo, claro, mas boa sorte na hora de apresentar os argumentos. Dar carteirada de ministro supremo não é argumento – a menos que seja para provar justamente o contrário.

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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