Opinião – A lei dos rendimentos decrescentes

Uma das áreas que mais sofrem (…) refere-se às empresas familiares e famílias empresárias. Em geral, as empresas brasileiras que crescem acabam tendo problemas quando os fundadores envelhecem, e começam os conflitos. Escreve José Pio Martins.

29/06/2023 13:43

“Aí, o negócio definha, os conflitos se acentuam e a empresa sucumbe, deixando um rastro de danos”

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Uma das mais importantes leis científicas em Economia é conhecida por Lei dos Rendimentos Decrescentes. Essa lei existe no aspecto técnico e material envolvido na atividade de produzir, portanto, aplica-se a todo bem ou sistema vinculado à produção ou qualquer tipo de uso. Resumidamente, essa lei mostra que o rendimento decrescente real atinge os processos econômicos à medida que o tempo passa.

Rendimento aqui é descrito no sentido real, em termos de capacidade produtiva e não necessariamente em termos de dinheiro, embora seus efeitos ocorram também sobre os rendimentos financeiros derivados da medição monetária feita em cima da atividade econômica.

Há duas maneiras principais do funcionamento da lei dos rendimentos decrescentes. Peguemos o caso da produção de tomates em um hectare de terra. Se forem plantados pés de tomates com distância de 10 metros um pé do outro, a safra de tomates colhida naquele hectare de terra será uma dada quantidade em quilos do produto.

Se a semeadura for feita com distância de cinco metros entre os pés de tomates, a produção física pode até dobrar, no mesmo pedaço de terra. Aqui, o rendimento é crescente. Porém, existe uma combinação ótima entre o tamanho da terra – um hectare – e o número de pés plantados. É quando se colhe o máximo possível.

Caso sejam plantados mais pés de tomates, até o ponto em que a distância entre eles fique a apenas 10 centímetros, a proximidade excessiva entre os pés de tomates prejudica a produção, o rendimento decresce e a safra acaba por diminuir.

Um exemplo simples da lei dos rendimentos decrescentes é o caso de um fogão. Se você compra um fogão novo, o material se desgasta à medida que vai sendo usado, o mecanismo do fogão envelhece e, após um tempo, ele começa a produzir menos e gastar mais gás ou energia, até o ponto de ficar ineficiente em termos produtivos e deficitário financeiramente.

Na construção civil, é conhecida a lei de fadiga dos materiais, similar à lei dos rendimentos decrescentes. Se você construir uma casa, ela envelhece com o passar do tempo, o material vai perdendo a força inicial e começa a apresentar problemas. Isso vale até para tudo, até para um simples muro de tijolos.

Os exemplos são muitos e estão presentes com destaque no setor industrial. Uma fábrica e todos seus componentes ficam menos eficientes, quebram com maior frequência, gastam mais energia e insumos de funcionamento, até o ponto em que se tornam economicamente deficitários.

Vale mencionar que rendimentos decrescentes também ocorrem por obsolescência tecnológica, mesmo quando uma máquina ainda esteja fisicamente em bom estado, porém superada diante de equipamentos mais modernos e mais eficientes.

O princípio dos rendimentos decrescentes se aplica também aos seres humanos. À medida que envelhecemos, o corpo vai perdendo energia, as doenças começam a aparecer, a capacidade de trabalho se reduz… e aí, nós passamos a ter problemas similares ao que ocorre na atividade produtiva material.

Há estudos feitos pelo IBGE informando que, na velhice, os gastos com saúde e cuidados pessoais chegam a dobrar em relação aos mesmos gastos na meia idade, como também os ganhos médios na mesma profissão se tornam menores na terceira idade. Essa realidade cria para nós o desafio de prover boa assistência à saúde e obter aposentadoria suficiente para envelhecer com dignidade e algum conforto.

Esse panorama frequente em nossa vida recomenda que é prudente pensar nesse ciclo da vida desde muito jovem e, a partir daí, planejar e se preparar para a velhice antes da velhice chegar. Gosto de insistir que uma regra boa deve ser implantada antes de ser necessária.

Uma das áreas que mais sofrem pela falta de tratamento adequado e no tempo devido refere-se às empresas familiares e famílias empresárias. Em geral, as empresas brasileiras que crescem acabam tendo problemas quando os fundadores envelhecem, e começam os conflitos entre herdeiros. Aí, o negócio definha, os conflitos se acentuam e a empresa sucumbe, deixando um rastro de danos, justamente porque não foram implantadas boas práticas de governança.

Por fim, o problema dos rendimentos decrescentes e a importância de práticas previdentes antes que o futuro chegue e a velhice se instale submetem todos os entes produtivos a suas consequências, sejam pessoas, empresas ou governos.

 

 

 

 

Por José Pio Martins é economista e professor de Macroeconomia, Microeconomia, Finanças Empresariais e Filosofia, em cursos de graduação e pós-graduação. Foi secretário do Planejamento de Londrina, diretor-geral da Secretaria da Fazenda do Paraná, vice-presidente do Banco do Estado do Paraná e reitor da Universidade Positivo.

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