Opinião – Sobre a “agressão” a Alexandre de Moraes

Pensei que Alexandre de Moraes, se fosse o juiz magnânimo que pensa ser e que eu gostaria que fosse, tentaria sair altivo dessa situação baixa. Escreve Paulo Polzonoff Jr. .

17/07/2023 07:19

“Perdoaria ou ignoraria quem o chamou de bandido, comunista e comprado”

O medíocre e covarde imperador Nero em “Quo Vadis”. Foto: Reprodução

A notícia da “agressão” ao ministro Alexandre de Moraes num aeroporto italiano me pegou no meio do “Quo Vadis”. Porque sou desses que, assistindo a um filme no conforto da minha casa, às vezes me permito uma ou outra olhadela no celular. De qualquer forma, melhor que tenha sido assim. Do contrário, talvez eu reagisse instintivamente com um sorriso ou, pior ainda, uma celebração.

Antes de continuar, porém, preciso explicar que as aspas decoram a palavra “agressão” por um motivo muito simples: até agora não há imagens do ocorrido. Com isso não quero dizer que eu não acredite que possa ter mesmo havido algum tipo de altercação. Os nervos estão mesmo à flor da pele, tanto aqui quanto em qualquer outro lugar onde haja brasileiros revoltados com o que acontece no Alexandrequistão.

Vale, porém, se deter um pouco mais nessa dúvida. Ela fala de nós, os desconfiados, alguns dos quais dados a usar curiosos chapéus metálicos; mas fala mais ainda sobre o ministro e a credibilidade da instituição que ele usa para satisfazer vontades pouco ou nada democráticas. Se houvesse um mínimo de virtude na atuação jurídica e política de Alexandre de Moraes, neste momento todos estariam condenando a agressão, e não duvidando que ela tenha acontecido.

Outra face

Mas, como eu dizia antes dessa interrupção não-programada, a notícia da “agressão” me pegou no meio do “Quo Vadis”, filme de 1951 que conta o suplício pelo qual passaram os primeiros cristãos sob o jugo de Nero. Daí porque, correndo o risco de desagradar uns e outros, vou dizer neste texto que o episódio envolvendo o ministro me fez pensar em toda a coragem necessária para se fazer o impensável: oferecer a outra face. Tanto por parte daqueles oprimidos por ministro com ares de imperador quanto por parte do reizinho ameaçado e, de acordo com os relatos, violentado em sua honra.

Coragem, sim. É preciso muita coragem para não nos vingarmos de nossos algozes. Para não nos rebaixarmos a eles. Para, uma vez nos sentindo livres de quaisquer amarras, nos lhes darmos uma lição. É preciso coragem para se deparar com Alexandre de Moraes num aeroporto de Roma e ficar quieto. É preciso coragem para, diante da possibilidade de “atacá-lo” com meia dúzia de insultos ou verdades, optar pelo silêncio. Ou, para evocar uma cena do filme que invariavelmente influencia este texto, é preciso muita coragem para cantar louvores a Deus enquanto se vê o próximo sendo devorado por leões.

Quando falo em “oferecer a outra face”, contudo, não estou me referindo à inação. Por outra, estou aqui na Roma de isopor pensando no combate virtuoso contra esse mal. Ou qualquer outro mal que nos circunde. Na ação inteligente, paciente e cheia da fé que se manifesta sempre que alguém, no furor da indignação mais-que-compreensível, se contém. Mais do que isso, sempre que alguém age com um amor genuíno por seus inimigos. Uau.

Aos leões!

E, já que estamos falando de coragem e covardia, ao ler os relatos ainda confusos sobre a “agressão”, pensei também na coragem que deveria emanar de um magistrado infelizmente rendido à mais sórdida das covardias: a do poder absoluto. Isto é, pensei que Alexandre de Moraes, se fosse o juiz magnânimo que pensa ser e que eu gostaria que fosse, tentaria sair altivo dessa situação baixa. Perdoaria ou ignoraria quem o chamou de “bandido, comunista e comprado”.

Mas não. Claro que não. Em vez disso, Alexandre de Moraes optou por se encolher mais um pouquinho. Ao que tudo indica, ele será novamente a vítima que não só se recusa a oferecer a outra face como também julga severamente seus agressores. Será que, como o Nero embriagado de poder, o ministro vai jogar as pessoas que o hostilizaram aos leões? E tudo isso em nome da defesa do Estado Democrático de Direito, hein! Que coisa.

 

 

 

 

 

Por Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor.

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