A maior vitória do presidente da Câmara foi a aprovação da reforma tributária, o que era considerado impossível de acontecer. Escreve Ney Lopes.
19/07/2023 05:52
“Já o presidente Lula retraiu-se e dizia nos bastidores que aquela não seria a reforma tributária dos seus sonhos.”
Há um personagem no centro do poder em Brasília, que tem sido decisivo para a governabilidade.
É o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, reconduzido com 464 votos para mais um mandato, até 2024.
Filho do ex-senador Benedito de Lira, atual prefeito da cidade de Barra de São Miguel, região metropolitana da capital alagoana, carrega consigo a herança de político com boa convivência, aberto ao diálogo, como sempre foi o seu pai.
Essas características ajudaram o deputado Arthur Lira obter em 2021 o apoio de 11 legendas para se eleger presidente da Câmara.
O PP, partido de Lira, aliou-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ocupou a antessala do poder, com o senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil e filiados em outros ministérios.
O momento mais complexo da presidência de Lira foi o pedido de impeachment, que listou 23 crimes de responsabilidade atribuídos ao presidente Bolsonaro.
Para não somar a crise sanitária já em curso com a pandemia, Lira preferiu evitar que a situação interna se agravasse.
Poupou o país de verdadeiro “tsunami” político-administrativo. O impeachment não teve prosseguimento.
Demonstrou que estava disposto a protagonizar a cena política e não ser apenas um coadjuvante.
Não podia ser mais difícil o período político, iniciado com a posse do novo presidente da República, quando Arthur Lira, com extrema habilidade, manteve-se no cargo de presidente da Câmara.
A campanha eleitoral de 2022 revelara clima de radicalismo, nunca visto na política brasileira.
O céu não era de brigadeiro.
Nesse clima de incertezas políticas, o PT manifestava disposição de não ceder espaços na administração.
Lira entrou na disputa pela presidência das Câmara, sem criar arestas intransponíveis no seu sistema, nem no governo que chegara.
Em um dos encontros com o presidente Lula, externou a sua opinião de que “o governo tem de se preparar para conviver com quem pensa diferente e dialogar com quem pensa diferente”.
O presidente parece ter aceito o conselho.
Fez uma campanha prometendo respeitar a proporcionalidade dos partidos e manter “neutralidade”, mesmo tendo sido apoiado pelo governo atual.
Lira ganhou a eleição e cumpriu a palavra, mesmo diante de problemas decorrentes do temperamento impulsivo do ex-presidente Bolsonaro, que cobrava decisões radicais.
O ministro Fernando Haddad, da Fazenda também foi elogiado por várias correntes políticas, em função de ter se mostrado habilidoso negociador e ajudar na aprovação final da reforma.
Já o presidente Lula retraiu-se e dizia nos bastidores que aquela não seria a reforma tributária dos seus sonhos. Mas, “engoliu” o resultado da Câmara e agradeceu a Lira a colaboração que dera ao seu governo.
Desde Ulysses Guimarães e Michele Temer nenhum presidente da Câmara teve o arco de poder igual ao de Lira.
Tornou-se o “eixo” da governabilidade, no governo Lula.
O importante é que esse status não vem através do “adesismo inconsequente”, mas, ao contrário, de posições lúcidas de quem busca priorizar os interesses do país, antes de qualquer outro.
Por Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano e da Comissão de Constituição e Justiça; procurador federal – [email protected] – blogdoneylopes.com.br