Aprender pelo menos o básico em matéria de conceitos financeiros e gerenciar com atenção as finanças pessoais contribuem para uma vida melhor e mais feliz. Escreve José Pio Martins.
21/08/2023 05:30
“A boa gestão das finanças pessoais exige interessar-se pelo assunto dinheiro”
A educação financeira passou a ser assunto na moda, a par de ser atividade obrigatória e necessária para pessoas, famílias, empresas e governo. As relações de finanças pessoais, gostemos ou não, estão presentes na vida de todas as pessoas e, com algumas adaptações, também estão nas entidades econômicas, jurídicas e sociais. Sendo assim, o melhor que você tem a fazer é dar atenção ao tema, estudar e gerenciar em favor de seu próprio bem-estar.
Entre as razões por que devemos dedicar atenção ao estudo e gerenciamento de nossas finanças pessoais, podemos destacar quatro. Primeiro, o ser humano nasce e, enquanto vive, tem um fluxo diário, constante e ininterrupto de despesas para prover os bens materiais e os serviços de que todos necessitamos para a sobrevivência física, mental e social.
A segunda razão diz respeito à mudança na estrutura da vida nos tempos modernos. O mundo não é simples e traz uma carga pesada e trabalhosa, em especial no meio urbano, em que a vida nas cidades se faz dentro de uma rede de coisas e eventos dos quais ninguém consegue escapar e que impõem custos financeiros a serem enfrentados.
A terceira razão é que o mercado de trabalho deixou de ser previsível e regular, tanto para o empregado assalariado como para o profissional autônomo e o empreendedor. Como é pelo trabalho que o ser humano obtém a renda com a qual adquire os bens e serviços necessários, as relações de ganhos, gastos, poupança e investimentos se impõem compulsoriamente.
A quarta razão é que, embora os gastos sejam diários e constantes, a renda pessoal não é, pois pode ser interrompida por efeito de desemprego, acidente, doença, velhice e aposentadoria e outros eventos, como acabamos de experimentar nos dois anos de pandemia.
Assim, a boa gestão das finanças pessoais exige interessar-se pelo assunto dinheiro, organizar sua vida financeira, registrar a movimentação de ganhos e gastos, dedicar parte de seu tempo para analisar e dirigir os vários aspectos de sua vida profissional e financeira.
A vida é uma travessia que se tornou muito complexa; o mercado de trabalho se sofisticou e a carreira não tem mais a estabilidade típica de décadas passadas. Os elementos da vida moderna fizeram a gestão das finanças pessoais assumir importância bem maior que no passado. Logo, aprender pelo menos o básico em matéria de conceitos financeiros e gerenciar com atenção as finanças pessoais contribuem para uma vida melhor e mais feliz.
Eu costumo sugerir às pessoas que imaginem sua educação financeira como uma escola de criança, cujo aprendizado se dá por níveis. Em linhas gerais, imagino quatro níveis de estudo para quem deseja melhorar sua proficiência em finanças pessoais. No nível 1, você dá os primeiros passos para a alfabetização financeira, aprende a elaborar o orçamento familiar e inicia o aprendizado dos cálculos mais simples sobre preços, juros, descontos, dívidas etc.
No nível 2, você aprende alguns conceitos mais elevados, porém ainda fáceis, como cálculo de juros em compra a crédito, formas de movimentar uma conta bancária, avaliação de empréstimos bancários e opções para aplicar sua poupança. Nesse nível, sendo você um adulto, certamente há aspectos que você domina, porém sem refinamentos mais elaborados.
No nível 3, já tendo avançado no nível anterior, é hora de aprender alguns cálculos mais sofisticados sobre matemática comercial e financeira. Calcular descontos por dentro e por fora, saber diferenciar juros simples de juros compostos, organizar orçamento e gerenciar suas despesas por classificação, ter noção de impostos, conhecer as opções sobre reservas para a velhice e as opções de aplicação a fim de multiplicar sua poupança. Além de outros, esses tópicos são alguns estudados neste nível.
No nível 4, pode-se avançar no estudo de aspectos mais sofisticados de finanças e do mercado de capitais, entender o funcionamento do mercado de ações e dominar o essencial sobre o mercado de crédito. Também é útil a iniciação em análise financeira de empresas e indicadores contábeis importantes para famílias e empresas.
Esse tipo de aprendizado pode ser executado ao lado de sua atividade profissional, qualquer que seja ela, bastando organizar seu tempo e reservar algumas horas por semana para o estudo de finanças pessoais. Dedicar-se a essa atividade, além de prover aprendizado valioso, pode ser algo prazeroso e melhora sensivelmente suas finanças. Vale a pena pensar sobre esse assunto, pois os benefícios pessoais, sobretudo na velhice, são muitos.
Por José Pio Martins é economista e professor de Macroeconomia, Microeconomia, Finanças Empresariais e Filosofia, em cursos de graduação e pós-graduação. Foi secretário do Planejamento de Londrina, diretor-geral da Secretaria da Fazenda do Paraná, vice-presidente do Banco do Estado do Paraná e reitor da Universidade Positivo.