As câmeras da TV aliada flagram o presidente, em tom solene, como se fosse mesmo o líder de uma nação livre e democrática. Os desfiles comunistas são todos parecidos. Escreve Rodrigo Constantino.
07/09/2023 10:45
“O carro tradicional está lá, assim como militares e ministros supremos”
É dia de festa! O governo gastou milhões para realizar a comemoração, montou enorme aparato de segurança para impedir “golpistas”. Na velha imprensa, os renomados jornalistas festejaram: “Depois de quatro anos, o 7 de setembro será comemorado sem ameaças de golpe de Estado nem xingamentos aos poderes”. Viva o Brasil!
O maior veículo de comunicação do país estampou na chamada: “Desfile protocolar e presença de chefes dos Poderes marcam volta à normalidade”. Viva a normalidade! No país que teve tanto escândalo de corrupção, o normal é isso mesmo: as autoridades em harmonia, todos participando da farra.
O mesmo jornal também celebrava: “Presença de Rosa Weber no 7 de Setembro marca volta do STF à cerimônia após afastamento no governo Bolsonaro”. De fato, durante o governo Bolsonaro havia muita tensão entre o Poder Executivo e o Poder Judiciário em sua instância suprema. Agora temos a volta da paz!
Toffoli, ex-advogado do PT, anulou as provas da Odebrecht na Lava Jato e pode beneficiar uns 400 políticos envolvidos em esquemas com a empreiteira, que até mudou de nome depois de sua planilha de propinas vir a público. A medida foi pedida pelo escritório da esposa de Zanin, agora colega de Toffoli, e ex-advogado de Lula também. Tudo em casa!
Os servidores públicos interessados em cargos comemoram, inclusive militares melancias – verdes por fora, vermelhos por dentro. Os empreiteiros safados salivam só de pensar na volta das grandes obras inacabadas. Banqueiros que fizeram o L observam satisfeitos o andar torto da carruagem, pois os juros vão permanecer elevados e o cartel será poupado de concorrência. As indústrias poderosas soltam fogos para festejar o protecionismo, os subsídios e a reforma tributária, que vai ferrar com o comércio para ajudar a indústria.
O desfile começa! O carro tradicional está lá, assim como militares e ministros supremos. As câmeras da TV aliada flagram o presidente, em tom solene, como se fosse mesmo o líder de uma nação livre e democrática. Os desfiles comunistas são todos parecidos. E o denominador comum em todos eles é fácil de identificar, como se deu na pergunta de um idoso meio caquético, com uma bandeira esgarçada nas costas, ao acompanhar na TV aquela festa: mas… e o povo?
Por Rodrigo Constantino, Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.